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Enviado por | Tópico |
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Margô_T | Publicado: 08/07/2016 08:56 Atualizado: 08/07/2016 08:56 |
Da casa!
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Re: o enterro
E porque a escrita não é só para dizer o que queremos ouvir, mas também para nos fazer pensar, causando impacto sobre nós, não poderia deixar de comentar este teu texto tão impressivo.
A mudança de perspectiva traz-nos uma nova consciência, tornando praticamente impossível que não nos identifiquemos com este homem e não nos sintamos a preparar-nos para assistir ao nosso próprio enterro. As descrições minuciosas ajudam a tornar o momento ainda mais realista e, consequentemente, mais vívido: o homem sai de “fato preto”, dá um “nó ao pescoço na gravata de seda italiana preta” e sai “de luto” (fazer um luto do nosso luto, antes do luto… toda esta componente estranha, no meio de uma descrição realista, nos causa impacto). Saem as lágrimas quando o “padre dirigiu um rol infinito de elogios” mas o momento que mais destroçou o já destroçado foi “ver todas as mulheres que amara em vida, juntas e em uníssono, a enterrarem-no sob a terra fria”. Porquê? Porque é no calor que as sente ou sentiu e ali, frio ele e frias elas, o calor se esvai sobre a terra fria. Forte, agreste e, acima de tudo, com aquela força bruta de uma verdade a fazer-se ouvir, saindo da caixa de Pandora. |