calar as dores
que torturam os gritos
calar os aflitos, e as putas
que se dizem meus amores.
calar é preciso!
toquem os tambores
escondam as mordaças dos malfeitores
toquem as baterias, as guitarras e os
motores, toquem na orquesta, mandem
os peões ao chão, mas não digam as palavras
que morrem na excursão. calar é isso. substituir,
fingir e não chorar para sorrir
e mentir, mentir quando se fala em amor...
calar é preciso!
e o mais que é riso – disfarce tonto
não tem vida própria, nem é por issso
não lhe perguntam se tem juízo.
toquem os hinos,
marchas e os clássicos
toquem tudo o que não diga
que os silêncios são perigos
ou que as palavras são ruas
pontes, e armazéns de ideias.
e se um dia sentires a mesma dor
foge, foge dos olhares
que neste mundo há quem pense
que nem direito tens a sofrer
e se calar ainda for preciso
diz-lhes, de viva voz, que quem sente
pode dizer, mesmo que os mares
afoguem a vontade e que nesse instante
calar é seja preciso
que pra viver sou capaz de os mandar
de os mandar foder!
que ninguém ouse duvidar disso!
mesmo que calar seja preciso...