A morada do nada
(...) fujo para ignorar, mas não posso ignorar que fujo, e a fuga da angústia não passa de um modo de tomar consciência da angústia. Assim, esta não pode ser, propriamente falando, nem mascarada nem evitada. Fugir da angústia e ser angústia, todavia, não podem ser exatamente a mesma coisa: se eu sou minha angústia para dela fugir, isso pressupõe que sou capaz de me desconcentrar com relação ao que sou, posso ser angústia sob a forma de “não sê-la”, posso dispor de um poder nadificador no bojo da própria angústia. Este poder nadifica enquanto dela fujo e nadifica a si enquanto sou angústia para dela fugir. (SARTRE)
Primeiro a brisa,
Tocou meu corpo moído,
Dos embates,
Desfazimentos,
Esfriou o rosto molhado,
Das lágrimas vãs.
Depois o vento
Agitou os braços vencidos,
Das perplexidades cansadas,
Secou o olhar,
Das lonjuras sonhadas
Encarquilhou os desejos,
Das noites passadas,
Congelou os pés,
Das tentativas frustradas.
Então o vendaval,
Tirou-me do chão.
Vôo sem rumo,
Pipa sem linha,
Folha flanando.
Nada onde agarrar,
Nada!
Só ventania,
Só o mar,
Escuro,
Agonia.
Não há vendaval,
Nem vento,
Nem brisa.
A água fria,
Recebe o que sobrou.
Nau sem rumo,
Pedaços.
Não há moia.
Nada sou!