Olhos fechados, o vento frio passava no meu rosto, as gotas da intensa e forte chuva machucavam-me e me refrescavam. Eu não fazia idéia de quanto tempo eu já estava sentada ali sozinha, parada, vagando em pensamentos. Eu havia vindo sem medo para a chuva para tentar acordar um pouco, eu precisava de um choque de realidade, e achei que os raios e a chuva pesada adiantariam. Mas me enganei, o que não é novidade. Eu estava ali, encharcada na chuva e viajando em pensamentos, e você viajava comigo neles. Os raios não me abalavam, nem mesmo os trovões que eu tanto temo me incomodavam, pois você estava na minha mente. Tudo parecia tão real, tão sólido. Eu ali, de olhos fechados. O zunido do vento se transformava em seus sussurros entre os lábios próximos ao meu rosto, e seu frescor o hálito de menta que quase sempre te acompanhava. As gotas maiores e mais grossas ao tocarem no meu corpo, lembravam-me os seus longos dedos escorregando pelo meu corpo todo, apertando-me contra você, já as mais leves representavam seus lábios que após me sussurrar aquelas palavras que só você sabia dizer, percorriam meu colo, beijando-o e chupando-o. Eu podia sentir meu corpo pulsar de prazer algumas vezes com a minha imaginação tão real.
Eu conseguia sentir meu corpo quente em conflito com a água gelada que escorria por toda a minha pele, deixando-me ser dominada por arrepios, como a sua respiração fazia contra mim. Minha respiração ofegava, e há muito eu já estava em outro plano.
Era normal eu estar presa ao meu mundo, com a cabeça nos ares. Estava tudo tão ao meu alcance rodando em minha mente: seus sussurros, seu toque, seu lábio, seu hálito… Eu não queria sair dali, e naquele instante pedi para que a chuva nunca parasse para que eu pudesse ter esse momento eterno em minhas mãos. Eu já estava presa em todo esse sonho, de uma maneira que eu pensava não haver mais volta, até que então sinto a chuva cessar em meu rosto, e algo macio e quente escorregar pela minha pele. Abro lentamente os olhos, tentando me puxar das teias do sonho que me prendiam com tanta força. A luz ardia ao tocar minha pupila, e tudo parecia reluzir ao meu redor com claridade que entrava por entre as nuvens escuras de chuva. Acima de mim, tampando as gotas que deveriam cair no meu rosto, depois de acostumar a luminosidade, estava você, sorrindo e observando-me com um olhar confuso de quem perguntava “Está tudo bem, amor?”.
E ali eu pude perceber que de certa maneira eu não estava sonhando, pois tudo aquilo que eu havia imaginado com a chuva fazia somente parte das minhas lembranças, dos meus eternos sonhos junto a você.
biianca