Contos : 

Naum

 
Naum




Liguei o computador e resolvi abrir minha caixa de entrada. Estava lotada. Parecia que o mundo todo havia enviado e-mail para mim. Li-os: um montão de asneiras e apenas uma mensagem importante, uma bomba!
Tive que interromper minhas férias. Apressei-me na arrumação das malas, ajuntei os papéis e os recortes de jornais que havia preparado para levá-los comigo no regresso da viagem. Interfonei à recepção do hotel, solicitei fazerem o check out e cuidei para não deixar por esquecimento algum pertence na suíte do hotel. Mas meu pensamento estava mesmo era lá!
_Alô, Hércules?
_Ele. Já sabemos que o senhor retornará com pressa. Não consegui vôo para Maceió, hoje. Esta época é difícil. Estou tentando. Creia que estou fazendo o possível para lhe trazer.
_Mas tenho que estar aí ainda hoje. Vocês não saberão resolver esse problemão. É uma situação muito séria. Você tem de conseguir vaga em algum vôo ainda hoje. Resolva logo!
_Não sei se conseguirei, doutor Abílio. Mas...
_Desculpa nenhuma vou aceitar. Providencie o bilhete.
A conta do hotel fora fechada. Puseram minhas malas no hall de entrada e eu fiquei sentado no sofá da recepção no aguardo da notícia de que ele houvesse conseguido uma vaga em um vôo para mim. Não almocei. As horas pareciam voar. Às duas da tarde meu celular tocou. Era ele, senti um alívio.
_E aí, que horas voltarei?
_Às dezenove. Virá na cabine com o piloto e o co-piloto. Não me restou outra opção. Usei todos os seus títulos e títulos para conseguir essa vaga. Uma hora antes estarei na sala vip do aeroporto para recebê-lo. Boa viagem.
_E Naum melhorou?
_Quando o senhor chegar verá se melhorou ou não!
_Então ele está grave?
_Eu nunca sei responder-lhe sobre esse assunto. Prefiro aguardá-lo.Viaje em paz.
_Como o farei se Naum está longe de mim? Vou retornar com meu coração na mão.
_Doutor, tenha calma. Não se esqueça de tomar seus remédios, os quatro. Lembre-se de sua saúde.
_Hércules, facilite tudo que o Naum precisar. Ele é tudo o que me importa ter nessa vida. É mais importante do que a própria empresa!
_Estamos zelando pela sua saúde, doutor. Naum esta tendo tudo o que um rei necessita para viver.
_Obrigado, Hércules. Faça mais. Eu adoro Naum. Ele é a minha vida.
A viagem de regresso foi péssima. A aeronave balançava muito. O piloto, um sujeito mal encarado, não me dirigiu a palavra em nenhum momento. Ao seu lado, o co-piloto, restringiu-se apenas a desejar vida longa para Naum. Nem sei ao certo quem lhe falou sobre meu filho.
No aeroporto Hércules bajulou-me com os excessos de que eu gosto. Tinha meu lenço verde na mão, dentro de um plástico higienizado. Arranquei-o dele e enxuguei minhas lágrimas. São Paulo ficara para trás e eu pedi pressa ao motorista para me levar até minha casa.
A casa estava triste. Portas e janelas fechadas, um silêncio sepulcral. Até o vento havia sumido. Pedi que Hércules ficasse longe de mim. Fui à frente de todos. Não deixei que abrissem a porta principal da casa. Repreendi o funcionário e eu mesmo o fiz. A sala, seu ar de tristeza, confirmou o que eu já pressentira no lado de fora. Caí no sofá, pus a cabeça entre as mãos e, urrando, indaguei para o mordomo:
_Naum?
_Está ótimo!
_Meu Deus, foi um milagre. Que bom!
_Mas, doutor Abílio, seu gato não se acidentou. Apenas levou um pequeno choque na tomada do seu secador de cabelos, na bancada de sua suíte. Desacordou-se mas não morreu.
_Descuido de vocês. Irresponsáveis, para que lhes pago caro? O persa saltou em meu colo, pressionou o meu ventre com a cabeça e aí sorri. Hércules, nunca mais deixo Naum sozinho. Viajará comigo doravante!
_O senhor está certo, doutor. Essa casa se torna um verdadeiro asilo de loucos, quando o senhor sai e o Naum fica aos nossos cuidados. Leve-o sim, sem pestanejar. Será para o bem de todo
_Naum é bem mais importante para mim do que todos vocês.
_Só não mais do que meu ótimo salário. Este, nunca se esqueça de mandar depositar em minha conta. Reveja o conceito de “bomba”! Naum é o segundo maior rei desta casa.
_Não! Ele é o primeiro; eu sou o segundo.
_Que horror!
_Está me chamando de exagerado, Hércules?
_Nunca o faria. Naum é uma notícia bomba!
_Concorda comigo, então?
_Sempre, patrão!
_E esse povo ainda me chama de exagerado!
_Que nada! Exagerados somos todos nós que acreditamos nas histórias mirabolantes desse reino onde vivemos a trabalhar para tornar Naum bem maior do que todos nós.
_Ah! É um alívio ouvir essas palavras de você, Hércules.
_Obrigado, patrão: pelo menos isso.

 
Autor
Paulino Vergetti Net
 
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