Saio de casa ainda o dia é primícias,
Sentado na língua molhada da praia.
Encho o olhar de mar e do regresso do pescador,
Completo-me de brisas e de sol nascente,
Cresço na elevada vivência de quem ama a vida!
Observo as redes vazias do pescador,
E não vejo tristeza e amargura em seu rosto,
Por ter sido arredio o peixe às suas redes.
Sorri como se farta tivesse sido a faina,
Assim, como se dádiva preciosa fosse,
O mar ter-lhe dado um dia de redes vazias.
Guardo do seu olhar brilhante de navegares,
A sublime aceitação dos dias de menor sorte.
Sereno no saber da dinâmica da vida,
Confiante na cumplicidade dos mares,
Tranquilo na escassez e na fartura,
Paciente na espera de melhor acaso.
Faz-se entender na linguagem do mar,
E, nas palavras das coisas simples,
Acha sustento maior.
Do mar aprende o tudo e o nada,
Numa singeleza quase ascética
Detém a erudição de sabedorias maiores.
Canta uma canção de alegria
Ao passar por mim o pescador,
Saúda-me com sorriso de felicidade.
E eu já nem sei se, por contemplação
Ou por suprema gratidão,
Retruco em vero sorriso de bondade.
Já vai alto o sol quando regresso
E não maldigo as noites não dormidas.
Apetece-me lembrar apenas
As alvoradas na praia do saber.
A vida por inteiro,
Na vida de um pescador.
Compreender que muito ou nada possuir
Vem a ser coisa una e indivisível!
Dionísio Dinis