Chamam-me povo, gente ou comunidade. Mas então
eu me questiono: quem poderia me chamar de povo, não
sendo ele parte do povo?
Eu sou o povo
Dizem-me que reclamo muito, exijo muito, nunca estou
satisfeito e nunca agradeço o bem que me é feito. Mas
então eu me questiono: como posso reclamar ou exigir
muito, se a minha voz para vós não passa de um
sussurro insignificante?
Eu sou o povo
Dizem-me que sou pobre e miserável porque detesto
estudar e trabalhar. Mas então eu me questiono: como
não gosto de estudar se desde pequenino, caminho
quilómetros à pé para chegar a escola mais próxima?
Como não gosto de trabalhar, se executo os serviços
mais humilhantes e desprezíveis para vós?
Eu sou o povo
Dizem-me que sou humilde, respeitoso, cordial, hospitaleiro,
sempre disposto a cooperar, a respeitar e a obedecer. Mas
então eu me questiono: como não podia ser humilde,
respeitoso e obediente, se eu sou APENAS o povo?
Eu sou o povo
Dizem-me que sou o responsável por toda confusão e
desordem na humanidade. Mas então eu me questiono:
como posso ser responsável pela desordem na humanidade,
se eu sou a PRÓPRIA humanidade?
Você e eu somos o povo!
Reedito este poema conforme me foi sugerido por uma pessoa amiga, aqui nesse espaço. Obrigado!