Poemas : 

INNUENDO (TRANSVERSAL E KARLA BARDANZA)

 
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Quadro de René Magritte


Qual cavalo alado,
sem um corno saindo indolentemente
das brumas do todo sempre,
qual innuendo estranho onde as asas são atraídas
para o fogo de uma vela numa casa velha,
qual bruxa diante das borbulhas
de sua mente quase má,
ajoelho, buscando de novo
um pouco de ar.

E a casa queria-se um castelo
perto do nada, suspensa pelos
olhos de Magritte ou talvez um
castelo de cartas como divinação
e contradição.
E a casa era igual ao melhor pedaço
de mim: aquele mesmo que procuro
não sentir em meus surreais vôos
e verdades.

Oh! Triste a minha sina, como um fado que canta
debaixo de uma ponte sem ferro ou flor.
Oh! Triste a minha sina de pó e terror,
de rápido encontro com os meus mundos.
Apenas sou e se sou devo ser o que já não
sei mais deixar de ser.

Vi o mar, sim, e quis um poema perfeito, sim...
Mas não te procurei, não te quis encontrar...
Não desta forma quando pouco já sei,
quando fecho os olhos para cheirar os sonhos
e ser forte e ser fraco e ser alguém.Quero
tanto, tudo que possa justificar
e ser um pouco de magia.
Quis o corpo.

Quis a alma também, mesmo utópica,
mesmo sem gémea ou atalho de outra,
quis a alma impura disso que faz-me
maior e brando, quase rei,
quase santo e céu.

E ao longe vi profetas, deusas indianas,
algumas gregas, como os vasos partidos
nos barcos adormecidos em fossas escuras
[...tão profundas...tão perto...]

E pronto...

Qual cavalo alado, irei como vim.
Sou os troncos que entram pela janela do teu quarto onde te baloiças nas noites,
pensando em mim
e em minhas viagens sem volta.

Não temas...
Não chores...
Deixes-me ir.
Fugir para dentro do branco,
do que engole o destino
e estreita a morte.

Qual cavalo alado,
sem uma asa saindo tonto
das nuvens cansadas,
qual innuendo estranho onde as palavras são
sangue, punhal e maldade,
qual bruxa lambendo
a pele de sua melhor vítima,
ajoelho para cair
dentro daquela paz,
morrendo
mesmo,
morrendo
agora,
morrendo mais.

Transversal e Karla Bardanza

 
Autor
Karla Bardanza
 
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Enviado por Tópico
Transversal
Publicado: 15/10/2011 03:21  Atualizado: 15/10/2011 03:22
Membro de honra
Usuário desde: 02/01/2011
Localidade: Lisboa (a bombordo do Rio Tejo)
Mensagens: 3755
 Re: INNUENDO (TRANSVERSAL E KARLA BARDANZA)
Ah.... O Olhar de René Magritte.

Obrigado Poetisa, pelo momento, pelo Innuendo, onde tudo começa, onde tudo acontece num curto espaço de um ou de dois seculos. Tudo é tão curto
"mesmo
morrendo
agora,
morrendo mais"

Obrigado. Silencio-me. Obrigado.

Abraço-te Poetisa.