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Moldura

 
O preto da roupa que lhe compunha os ossos era o mesmo que lhe ofuscava a luz radiosa que provinha do profundo do céu azul dos seus olhos. A viuvez condenou-a ao negro perpétuo, onde fora ré sem direito à negação de uma culpa que não era sua. De vez em quando, metia a mão ao bolso do avental e um quadradinho branco a enxugar-lhe as pálpebras rasas de água que se diluia em esperanças cristalinas de ontens...
Apesar do sal que se despenhava das cataratas, nenhum soluço. Ás vezes, à tardinha, ouvia-a cantarolar a saudade das cantigas, à sua companheira muda a quem chamavam solidão, que a escutava com a maior das atenções.
Anoitecia janeiros e debulhava agostos. Por vezes, quando fecho os olhos, ainda a encontro curvada sobre a dobra do lençol, a remendar o que já havia sido remendado vezes sem conta, até que as tremuras...




*... vivo na renovação dos sentidos, junto da antiguidade das lembranças, em frente das emoções...»

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cleo
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Enviado por Tópico
Migueljaco
Publicado: 15/10/2011 01:22  Atualizado: 15/10/2011 01:22
Colaborador
Usuário desde: 23/06/2011
Localidade: Taubaté SP
Mensagens: 10200
 Re: Moldura
Boa noite Cleo, sua personagem sente-se angustiada com as agruras que tem enfrentado em seu cotidiano, e dos quais não se julga merecedora, parabens pelo seu instigante poema, MJ.


Enviado por Tópico
Vania Lopez
Publicado: 15/10/2011 02:01  Atualizado: 15/10/2011 02:01
Membro de honra
Usuário desde: 25/01/2009
Localidade: Pouso Alegre - MG
Mensagens: 18598
 Re: Moldura
Só me ocorre pedir que escreva tão imensamente como agora porque transborda na minha alma. Aff. (obrigada) bjs

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 15/10/2011 02:16  Atualizado: 15/10/2011 02:16
 Re: Moldura
olha... Cleo, nem sei descrever... tanto foi o prazer e mais qualquer coisa que senti... maravilhoso... lindo

vai-me ficar o cheirinho dos nossos vinhos algum tempo na retina, com certeza eheh

beijo

Enviado por Tópico
rosafogo
Publicado: 15/10/2011 10:07  Atualizado: 15/10/2011 10:07
Usuário desde: 28/07/2009
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 Re: Moldura
Imagens que não me saem da memória, assim era minha avó, viúva de negro desde quase menina, ficando com cinco filhos. Me emocionei, foi bom ler-te.

bjs

Enviado por Tópico
Nadir.Caetano
Publicado: 15/10/2011 12:46  Atualizado: 15/10/2011 12:46
Super Participativo
Usuário desde: 14/10/2011
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Mensagens: 129
 Re: Moldura
um texto com fulgor, ritmo e cores temperadas.
aqui e ali, há também, os calores frios das mudanças. e em tão pequeno texto se consegue abraçar tantos mundos...
parabéns pela escrita.
abraço
nac

Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 21/10/2011 10:53  Atualizado: 21/10/2011 10:53
Usuário desde: 02/03/2007
Localidade: Queluz
Mensagens: 3731
 Re: Moldura / Para todos
Bem hajam pelas vossas leituras e palavras de apreço a este meu texto que pretende retratar um instante que a memória me devolveu.
Obrigado a todos!

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 21/10/2011 11:04  Atualizado: 21/10/2011 11:04
 Re: Moldura
(...)Anoitecia janeiros e debulhava agostos(...)
Esta pequena frase valeria só por si por muito texto inteiro que por vezes leio.
No entanto, devo dizer-te que todo o quadro que emolduraste é belo.
Tenho gostado muito da tua prosa e não me cansarei de o dizer sempre que assim o escreveres.