Ó noite, dos meus encantos,
De sombras
E sons misteriosos,
Noite que calas prantos
E tens facas,
Segredos nos bolsos,
És vulto nas esquinas,
És mulher de má sorte,
Espelho,
Anfetaminas,
Braços chamando a morte;
Beijo inocente,
Charme maquilhado,
Voz dolente,
Do ato consumado;
E és marinheiro alado,
Cartaz sugestivo,
De um pobre desgraçado,
Que se sente ofendido,
Por não reconhecer,
Como seu,
O nome com que nasceu,
Qual ao morrer.
Ó noite,
Tão viva de tudo,
Prostituta,
Indigente,
Amante,
Sereia,
Por ti não mais me iludo,
Mas cantar-te-ei
Sempre,
A cada nova lua-cheia.
Jorge Humberto
In Fotogravuras II