Os relatos da bola, por tradição, eram sempre na emissora nacional. Aquilo ao domingo à tarde era cá um frenesim! O pessoal metia-se no carro e ia para o campo. Ao domingo, substituiam-se os passarinhos pelo palavreado acelerado e inspirado dos relatadores. A gente admirava-os. Aquele metralhar de palavras que requeria pulmões com estofo de balão e o "GOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLLLLLLLLLLO!!! É golo, é golo , é golo do..." que fechava a jogada, eram os momentos, o culminar, a cereja de toda uma semana de escola e canseiras.
Ai os domingos! Os domingos só começavam de verdade às quatro da tarde!
Antes, à hora do almoço, ali por volta do meio dia e meia, era altura do espectáculo dos "Parodiantes de Lisboa". A Comercial era dona do momento. Era a companheira dos carapaus e dos pimentos, que se grelhavam na brasa e das batatas com feijão verde e ovo que coziam na panela... ainda lhes sinto o cheiro.
Para o vizinho de baixo, a manhã era sempre para a Renascença. Pessoa religiosa que nunca falhava a eucaristia dominical. Sendo doente e estando acamado, não se podia deslocar à igreja por isso fazia questão de ter a missa em casa e, generoso, dava-a a todos os demais.
A emissão da televisão, ainda a preto e branco, só interessava ao princípio da noite, com o Telejornal.
Naquele domingo tínhamos o festival da Eurovisão e, por isso, o jantar tinha que ser cedo. O sofá, ainda ao estilo dos sessenta, assente em pés cónicos de madeira, estava à espera de noite cheia.
Nos outros dias era a Gabriela.
Outros domingos, aqueles!
Valdevinoxis
A boa convivência não é uma questão de tolerância.