Peguei num lápis de cor, duma qualquer e raspei-lhe o bico com uma navalha afiada. Saltaram lascas. A grafite, de uma cor qualquer, não ficou redonda, cilindrica, cónica e quase não ficava sequer. Imperfeição. Mesmo assim serviu-me o propósito e desenhei um esboço da tua cara numa forma assimétrica, tal como eu a vejo.
A assimetria tem o dom de ser única. Não há cópias. Só originais.
A folha de papel amarelado ou, talvez, só baço e texturado, era reciclada. Já fora outra usada e renascera nova. Como eu e tu. Deitada sobre a mesa de madeira prensada, dava-se ao desenho da tua cara assimétrica com um lápis de uma cor qualquer, mal afiado.
Ao lado, uma caneca de chá de cidreira já morno. Trouxeste-ma quente, a escaldar e esqueci-me a tinhas deixado ali. Quando me lembrei já estava morna. Morna e doce. Puseste muito açúcar. Olhei, docemente, para a tua cara assimétrica e para a folha de papel onde já tinha feito o teu esboço, com um lápis imperfeito de uma cor qualquer, peguei na caneca e bebi o chá de cidreira morno.
Recostei-me e pensei como é difícil ser original sem ser imperfeito.
Valdevinoxis
A boa convivência não é uma questão de tolerância.