CARTA PARA MARIA
Chegou o correio,
trouxe carta para Maria!
Maria olhou, de soslaio,
desconfiou.
Que raio!
Maria nem ler sabia,
não podia ser,
pediu-me para a ler,
era do patrão,
Maria estava despedida!
Maria,
agarrou-me a mão,
perguntou-me:
-"Porquê?"
-"Devido à reestruturação", disse-lhe.
Maria fôra atingida.
Estava despedida!
Trágico, aquele mês.
Primeiro fôra o marido.
agora a sua vez!
O casal desempregado!
E agora pão para os filhos?
ainda na escola!
Maria adivinhava sarilhos,
desfalecia!
Um dia,
vi Maria, de sacola,
a mendigar,
ouvi vozes a dizer:
-"Vai trabalhar."
Vi Maria, a chorar,
perdida na vida!
Procurava trabalho,
foram dias,
meses a fio,
a eito,
depois veio o Inverno,
o frio,
uma dor no peito!
Maria,
com mais de cinquenta anos,
pressentia que para si
o trabalho já estava feito!
Mas Maria continua,
por aí,
a pedir trabalho
ou pão!
O patrão,
esse continua em reestruturação!
Dá novos empregos a futuros desenganos!
Senti-me culpado, l
lera aquela carta,
agora,
quando à minha porta bate,
dou-lhe algo,
que logo com seus reparte,
depois continuo a ler o jornal,
reparo num título:
" Moderna tecnologia provoca desemprego,
faz-se num dia o que numa semana se fazia"
Mais tarde,
soube que Maria ficara gravemente doente,
enquanto o patrão
e a sociedade continuam em reestruturação!
Mas,
muitas Marias e Maneis só querem trabalho
ou pão e mais humanas leis.
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
(o figas de saint pierre de lá-buraque)
Gondomar-PORTUGAL
Figas