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8ª foto – A taberna e o taberneiro

 
A linguagem, mais do que vernácula do taberneiro era dirigida aos gordos que se encharcavam de bagaços. Era coisa que fazia corar qualquer diabo. O homem era impressionante. A forma como conseguia debitar um chorrilho absurdo de asneiras numa só frase sem um único laivo de sorriso... que extraordinário! Era o resultado do processo normal de um dia a dia bem calejado na língua. Anos daquilo!
Não havia outra forma ou, pelo menos não conhecia outra forma de manter aquela gente na linha. Era um pouco como o domador de leões, que se aventura na arena do circo, munido apenas de um bastão e um chicote. As pessoas não sabem mas controlar um magote de profissionais do copo de três e do bagaço, mete medo. É preciso ter estômago, estaleca e muita fibra.
Desde que se conhecia por gente que fazia aquilo, sempre da mesma maneira. Aprendera com o seu pai que apesar do corpanzil, nunca tinha feito uso de mais do que o vozeirão e de uma colecção invejável de impropérios. Pode-se dizer que era uma questão de estatuto adquirido e que ficou de herança... daquelas coisas dos genes!
O certo é que resultava, em quarenta e três anos de porta aberta nunca teve que chamar a polícia, usar o músculo ou coisa que o valesse (bem, houve só aquela vez com o cigano!). Tinha grande orgulho no seu desempenho e gabava-se dele... ainda mais porque sempre se ouviam muitas histórias sobre rixas.
- Copos e gente que não tem respeito por nada – dizia.
Aos sessenta, o corpo já lhe pedia que descansasse daquela vida. Lá dizia a expressão que “não matam mas moem” e ultimamente moíam que se fartavam.
Sabia que a taberna iria acabar por fechar, isso era certo. Tudo muda, tudo tem um fim mas o que fazer?
A descendência não estava para aquilo e o mais velho andava, há já dois anos, a dizer que queria transformar o espaço num bar com música e tudo.
O sacana do gaiato queria era festa! O mais certo era acabar por dar cabo da casa e arranjar chatices mas, são as coisas desta gente nova que não sabe o que a vida custa.
- Depois não me venhas cá pedir dinheiro para te tapar os buracos! Pensas que essas coisas dão para viver? Que os bons clientes, aqueles que aparecem e pagam todos os dias nascem nas árvores? - ralhava sempre que a conversa rondava o fecho do boteco.
Era evidente que não havia nada a fazer. A vontade do jovem iria prevalecer e ele, como pai, iria tapar-lhe os buracos todos. Com um bocadinho de sorte, a história do bar podia correr bem.
- As ralações são uma cruz que vão com a gente até ao caixão. - resignava-se.
Quando o taberneiro morreu, o bar já não existia. Existiu só por meio ano. O estouvado do gaiatola meteu-se nas drogas e acabou com a casa num instantinho.
Aquilo agora é um loja de roupa fina. Da taberna, só a memória de alguns.

Valdevinoxis


A boa convivência não é uma questão de tolerância.


 
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Valdevinoxis
 
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