DE VOLTA AO PASSADO
(Jairo Nunes Bezerra)
Volto às minhas origens!... Há anos, nesse mesmo lugar, veio ao mundo minha mãe. Dona Minerva Nunes, filha do Conde Nunes, descendente da aristocracia Lusitânia, cuja família, por ter prestado relevante serviço à Coroa Portuguesa, foi distinguida com grande extensão de terra no Acre, fato que ainda contesto, pois se voltarmos à história: O Rio Acre, Os altos Purus e o Alto Juruá, começaram a ser explorados por iniciativa de brasileiro, principalmente por Nordestinos à procura do Eldorado Acreano. Praticamente foram os Cearenses que forçaram à incorporação do Acre ao Brasil, pois os brasileiros, em boa-fé, julgavam que o solo era nacional. Foi quando o governo da Bolívia despertou para a realidade de que o Território Acreano fora palco de completo processo de ocupação produtiva. Tudo concorreu para que os governos do Brasil e Bolívia fizessem o acordo de remarcação efetiva da linha Beni Javari. Entretanto tudo resultou em nada, pois aconteceram guerras freqüentes. Até os poetas foram envolvidos: O grupo de Moços Intelectuais da Boemia de Manaus, a “Expedição dos Poetas” Para a concretização de tudo, a solução foi o Tratado de Petrópolis a 17 de novembro de 1900, pelo qual o Acre passou a ser propriedade brasileira com pagamento à Bolívia, de 36 mil, 268 contos e 870 mil réis em moeda e câmbio da época, valor complementado por transferência pra Bolívia de pequenas áreas no Amazonas e Mato Grosso. Considerando o exposto, questiono, de que maneira, naquele período, os portugueses teriam feito doações do que não lhe pertenciam?... O certo, porém, é que o meu avô era detentor de um território às margens do Rio Purus, um dos importantes afluentes do Rio Amazonas.
Tudo corria as mil maravilhas naquele recanto aprazível cercado de floresta verde. Quando um Cearense, cabeça chata e olhos azulados, com pretensão a poesias, mas formado em Ciências Contábeis, colocou os seus olhos na mais prendada virgem daquele paraíso: Dona Minerva, a minha mãe, hoje falecida. Infelizmente ele não tinha sangue azul e o casamento foi feito à revelia... O tempo passou e, agora, depois de tantos anos, aqui estou à procura do passado. Visitei a Casa Grande, já em ruína. Em ruína também foi encontrado o velho brasão pendurado na parede com parte da moldura de metal carcomido, já sem brilho, já sem nada, em contaste com uma moderna escrivaninha em estado deplorável. Não chorei. As lágrimas se recolheram, talvez tenha sido beneficiado por lembranças repentinas dos que amo embora a grande distância. É... O nosso Visconde poeta ainda com o sangue vermelho azulado navegando nas recordações!
Deixo o passado e penetro na selva. Inicialmente os mosquitos de mim se apossam, mas, aos poucos, se afastam. O macaquinho pula de galhos em galhos à minha aproximação. E revoada de pássaros me assusta. O silêncio se faz de repente... Apenas quebrado por grasnar, regougar, trinar, uivar, chiar de aves de pequenos animais. Apesar da sombra a temperatura atinge a 33 graus. Vou em direção ao rio e passo por igarapés cheios de jacarés com as bocas abertas exibindo dentes afiados!... Penetro no rio. A água está morna. Aventuro-me mais distantes apesar da advertência de alguns curumins, que caem nas risadas a me ver receoso das piranhas, mas é compensador. Alguns índios de mim se aproximaram. l Mas os arcos e fechas só têm um destino: À aquisição de reais. Negocio um arco em troca de meu relógio. A amizade está selada. Conquistei a tribo toda. Até a indiazinha de seios desnudos já me contempla com emoção, não sabe ela que a minha sociedade condena a pedofilia. Felizmente chega o barco. Seria dizer o pequenino barco, que me levará o outro local, de preferência a Tarauacá, onde pretendo navegar em qual, quer micro e talvez até falar sobre paixão. Aqui é muito difícil se atentar par o vernáculo, porque os pássaros gostam de ilustrar o papel com suas digestões. E lápis único já está falhando. Um forte abraço do poeta e meus agradecimentos a UTA pelo transporte no micro avião.
.