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MÃE DA HEROÍNA FILHA DA DROGA

 
Um olhar sobre tudo o que é belo
Uma flor um pôr-do-sol o desenrolar do novelo
Vives a vida na forma real
Mas não chega e procuras algo especial
No fim de contas és dona do teu corpo
E o prazer vende-se em cada esquina em cada copo
O cigarro é bom mas não chega para sentir o prazer
A vida real não presta e ficas cega de querer aprender
- Hoje à uma festa queres vir?
- Bute aí vai ser ganzar até cair
E acabas de nascer numa mãe adoptiva
Não queres saber quem ela é mas queres ser sua filha
- Que se lixe quem me deu à luz e me viu nascer
Pois é bem melhor esta mãe desconhecida que me dá prazer
Como é? Hoje não à festa?
-Não, a ganza acabou e o dinheiro pouco me resta
Mas a tua mãe te chama para mais uma alucinação
O dia vira noite e a tua companhia é a solidão
E vem um amigo com uma dose de hipocrisia
Não interessa como ele conseguiu e vai de fumar mais um dia
Acordas com as ondas a bater no teu rosto como setas
Com quem dormiste? A quem te vendes-te? Não te interessas
E a tua mãe dá-te uma filha a conhecer
Já não fumas, agora, é chutar até esquecer
Mas tu amas a tua filha e não passas sem ela
A rua é a tua casa e a lua a tua vela
O dinheiro acabou e ficas na sarjeta da vida
Vendes o teu corpo, amas o ódio, e a seringa é a tua amiga
Acordas no hospital num corpo sem alma nem proteína
Olhas para a janela e chamas a tua filha de heroína
E voltas de novo para o mundo de vida morta
Gritas o silêncio de uma lágrima perdida de uma calma revolta
A tua mãe vem de novo – O que fazes agora?
-O que se pode fazer quando a nossa mãe é a droga?!!
Mais um dia em que te lembras de esquecer
Dos olhares cegos que te estão a ver
Das amizades inimigas de um dia de trevas
Julgam-te sem justiça por seres o que não eras
Chegou a noticia, que mentira fosse
Mais um amigo teu, nos caixotes, morreu de overdose
Raiva de tudo e de todos que se lixe tudo isto
Não sabes para onde ir e a droga é o teu isco
Passam-se algumas semanas e decides pôr fim à tua vida
Vais até há ponte para acabar com a tua família fingida
Um passo na berma as lágrimas correm sem parar
Salgando o mar da droga que por tua mãe se fez passar
E o salto da morte surge e o dia fica em trevas
No silêncio acabou o roubar o prostituir o comer nas sarjetas
Mas um aviso dentro de ti te fez acordar para a vida
Tua barriga mexia, algo, dentro de ti te deixou confundida
O que temias bateu-te à porta que não dava para fechar
Mal tinhas dinheiro para o chuto muito menos para abortar

Bates-te na porta da inimiga da droga
Pedis-te ajuda há tua mãe biológica
Agora tinhas duas filhas para escolher
A que te pedia vida e a que te pedia para morrer
Chegou o dia de nascer de novo para a vida
Fechas-te num quarto e o desejo te consumia
Quando saís-te a tua mãe foi te perguntar
-Então a tua filha ajudou-te a desintoxicar?
As tuas lágrimas da vida te davam as boas vindas
A tua filha heroína tinha morrido e enterras-te as seringas
Foste ao jardim e pegas-te numa flor
Olhas-te para ela e admiras-te o que à de melhor
Meses depois nasceu a razão de tu viveres
Aquela criança que pedia para amares e não para morreres
As tuas palavras foram:
-Não sei quem é o teu pai mas sei que és minha filha
Nunca te vou trocar por nada desta vida
Nasces-te para me mostrar como tudo pode ser belo
Uma flor um pôr-do-sol o desenrolar de um novelo
Mãe da heroína filha da droga foi o que eu vivi
Mas vou estar ao teu lado para te dizer como foi bom quando te senti
Obrigado quando te mexes-te naquela ponte
Impedindo-me de conhecer a morte.

 
Autor
MenteOculta
 
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