Moro no olhar alheio dos teus olhos,
habito o cerne da fábula do teu ventre livre,
descanso na curvas de teu corpo amigo,
talvez a procurar-me também livre na prisão dos teus beijos, dos teus seios,
tudo bem maior do que minha carne.
Em lugar nenhum eu moro
porque de ninguém eu sou!
Se me acharem um santo perverso,
Preferirei ser esse diabo generoso
que, incompreendido, vive quase morto,
preso ou quase solto,
cheio de misericórdias.
Quem me ver não me ver
porque sou outro distinto além de mim,
fora do que possa eu ser,
um morador das nuvens, um anjo de papel,
molhado e enxuto, manso e bruto,
à procura de um outro amor menos desgenoroso...