Porto 3 de Fevereiro de 1917
Meu querido João.
Espero que esta te encontre bem e de saúde, hoje é a segunda vez que te escrevo, a saudade é tanta que sinto o peito apertado e só escrevendo mitigo um pouco esta falta que me fazes. Escrevo te por isso e por outra razão, hoje ao almoço o Papá comentou que os Estados Unidos declararam guerra à Alemanha, parece que a Alemanha avisou que iria atacar as frotas que vêm da terra nova para auxiliar o esforço de guerra dos Aliados e a resposta não se fez esperar. Isto parecia-me a mim uma escalada de violência desnecessária mas o papá mandou-me calar dizendo que a política não é para mulheres. Disse-me que eu era uma tonta que não percebia que a entrada dos Estados Unidos iria encurtar a sua duração e mais depressa voltas para podermos casar, ele está com planos para ti lá no escritório. Fiquei tão feliz que vim a correr escrever-te de novo. Será que é verdade meu amor? Por favor responde-me, gosto da tua voz cava e profunda a dissertar, como anseio que aqui estejas.
Nem sei mais que te dizer, apetecia-me escrever, escrever até extinguir a minha capacidade de o fazer, até que se esgotasse a tinta, e em cada letra desenhar o teu rosto e fazê-lo vivo para o meu beijo. Arrependo me tanto de não te beijar as vezes que me pediste. Agora queria-o tanto meu amor.
Deixo no envelope um pedaço do meu lenço, perfumado com a colónia que me ofereceste,
para que me recordes aí nesses campos de França.
Aguardo para breve o teu regresso, quero muito crer nisso. Por favor cuida de ti.
Tua Ana Maria