Brest, 3 de Fevereiro de 1917
Minha mui querida Ana Maria
Hoje não te escrevo para te dar novas da minha vida aqui. Depois de um dia exaustivo não me apetece falar de coisas más, apetece-me tão só declamar o amor que te sinto, dizer-te da nostalgia que me assalta dos momentos que te recordo. Ainda não recebi qualquer carta tua desde que saí de Tancos e isso aflige-me. Minha flor perfumada que deixei plantada no vaso da minha existência, tão sozinha nesse imenso terreno de terra fecunda que em deserto se transforma senão regar esse imenso sentimento que me confessas nessa voz de veludo ao meu ouvido.
Confesso o silêncio que me envolve no tumulto da azáfama, quando me recolho na serenidade do teu olhar.
Confesso que te dedico a madrugada que me espreita em cada despertar
Confesso que declamo à lua as declarações que te queria recitar.
Confesso que não tenho luz do sol para me aquecer, tão só a lembrança do teu corpo quente envolvido no meu.
Confesso o ardor que sinto no ventre na solidão da minha tenda quando me refugi-o na tua ausência.
Confesso-te tarde quente do meu querer.
Confesso-te sal de brisa marítima que me inunda os lábios
Confesso que te amo…tanto, tanto.
Beijo-te as mãos meu bem querer
Teu João Da Nóbrega