Velhas árvores lembram fotos antigas
Deixando nos olhos uma lágrima tímida
Pássaros de fogo gorjeiam sufocados
Pela fumaça de um churrasco fora de tempo
Um homem e uma mulher dormem na calçada
Enquanto duas almas gêmeas vendem feijoada
Debaixo das ruínas de um barraco clandestino
Onde está o menino?
Onde se escondeu o poeta?
Cadê os catadores de sonhos?
Chamem as carpideiras
O velho deus morreu
E ninguém está disposto a chorar.
Velhas árvores lembram fotos antigas
Desbotando nossas lembranças
Que são levadas pelo vento
As sombras refrescam a manhã de sol
A embriaguês da vida é melhor
Do que o sonho procurado
No meio da praça carcaça de homens
Jogam dominó e contam suas histórias.
São pequenas as veredas,
Tão longo é o pensamento
A cruzar os ares em busca de um corpo
Ou trazer o gosto do último copo de vinho.
Ouve-se a notícia triste de uma morte
Enquanto gladiadores disputam a glória
Debaixo de um sol escaldante
Alguém comemorou o nascimento
De mais um rebento
De repente acorda o homem que dormia
Debaixo de uma marquise amarela
Tragam as cordas, tragam as rosas,
Tragam a mesa com feijoada
Pois um homem despertou para a vida
Sem a necessidade de um milagre.
Velhos, árvores, bancos, pombos,
Lavados pelo vento de outubro
Reluzem na praça onde repousa o guerreiro
Armado de velhas fantasias
E disposto a guardar na carteira do tempo
As impressões de um passeio na praça.