Oh...Pátria
Pátria minha,
Quem és tu, afinal?
Tanto nos pedes e pouco nos dás.
Desde a primeira vez que eu vi o sol
No teu chão espelhado,
Sempre te conheci assim, indiferente
Às tuas gentes,
Vivendo das saudadas sebastiânicas
De um novo advir, que jamais chega!
Porque nos ignoras Pátria amada,
Se os teus filhos dão a vida por ti?
Insistes nas glórias das velas içadas,
Pelos mares da esperança, em frágeis caravelas,
Nas seiscentistas aventuras,
Em busca de outros mundos
E esqueceste-te de ti, o teu mundo, tão pequeno
E tão miserável...
Olha para os teus vizinhos,
Despontando orgulhosamente na riqueza
Social e económica!
Ah...Pátria das minhas tristes memórias,
Em que parias escassos doutores
Entre os privilegiados deste pequeno torrão;
Hoje, Pátria minha, fabricas doutores
Como produtos em fábrica
De sofrível qualidade
E não lhes dás trabalho!
Orgulha-te de ti...não nos abandones
Como já fizeste outras vezes;
Já esqueceste África,
Em que espoliaste vergonhosamente
E atiraste para a miséria milhares de filhos teus
E continuas aí, de cabeça erguida,
Quando devias sentir-te humilhada,
Perante os que te declaram fidelidade!
Oh...Pátria,ganha vergonha e renasce das cinzas
Não permitas que tantos, em tão poucos de um todo
Não tenham pão para alimentar as suas crias,
Que são afinal teus filhos também!
Acorda Pátria...
Os teus nativos voltam a fugir da tua casa,
Repete-se a história, ao longo dos séculos.
Acorda, Pátria minha!
José Carlos Moutinho