Eram três da madrugada,
Eu no meu quarto,
Naquela noite cerrada
Em pijama, deitado na cama,
Mas dormir? Dormir nada!
Entã pensei que a noite tudo iguala:
Iguala o magala ao general,
O padre ao cardeal,
Na noite, réu e juíz têm igual nariz!
A noite não distingue ricos e pobres,
Quem têm medalhas e os canalhas,
Quem sobe e quem desce,
A noite tudo iguala quando desce,
E tudo o que no dia passa
À noite passa a passado
E passa ao escuro do nada,
Nem se vê cortinas floridas
Nas persianas corridas,
Nem se vê o pijama que vestimos
Nem outros vêem o que sentimos!
A culpa é do Sol, que tudo ilumina,
Mas, ao bater num homem de frente
Faz sombra ao que está atrás,
Que também é gente!
O sol não é igual para todos,
Com ele faz-se contrastes,
Distingue-se um magala dum general
Um padre dum cardeal
Um governante do governado
O bem e o mal
Os bons dos canalhas,
No peito o brilho das medalhas
Mas quando a noite cai tudo fica igual
Tudo nivelado pelo escuro,
O olhar não vê boas nem más acções
Nem vê condecorações.
Na noite reina o tacto
Mas é bom que cada um se sinta bem na noite,
De facto um bom treino,
Porque, ao fim e ao cabo,
O Homem na eterna sombra tomba!
O problema do Homem,
Quando ao sol,
À luz do dia,
é:
O Homem saber andar de pé!
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
(figas de saint pierre de lá-buraque)
Gondomar
Figas