Poemas : 

Presente

 
Este é o século dos ninguéns,
Dos que são mas nunca foram,
Dos que já foram e nunca mais o serão,
Este é o século do não pensamento,
Da felicidade enquanto momento
E das decisões tomadas pelo vento,
Pelo mesmo vento que comanda as guerrilhas,
Que varre o mar e esconde as feridas,
Que oculta a dor,
Sob as correntes de lava,
Do grande rio,
Que transporta e semeia o terror,
Nas cabeças tão férteis dos não pensadores...
Mas as minhas expressões são tão vagas,
Como aquilo que eles pensam saber,
E se as palavras me inundassem
E jamais pudesse parar,
Talvez pudesse finalmente encontrar
Um final para o sofrimento
Que insiste em me acompanhar...

 
Autor
lip
Autor
 
Texto
Data
Leituras
673
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
3 pontos
1
1
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Margô_T
Publicado: 08/07/2016 09:14  Atualizado: 08/07/2016 09:16
Da casa!
Usuário desde: 27/06/2016
Localidade: Lisboa
Mensagens: 308
 Re: Presente
Este é o poema do alguém
que contrariando o “século dos ninguéns”
se tenta fazer ouvir

no meio “dos que são mas nunca foram” (os heróis modernos) e “dos que já foram e nunca mais serão” (os esquecidos).
Neste século, existe o “não pensamento” como norma (mas também há o oposto) e a felicidade, essa, é apenas um “momento” (Fast-Vida, Fast-Felicidade,….), do que se decide sem critério (“pelo vento”).
Inacreditavelmente, é, também, “pelo vento” que essas “cabeças tão férteis dos não pensadores” “comandam as guerrilhas”.
Mas mesmo que nem o mar nos sare e esconda todas as “feridas” e “dores” - porque o próprio rio “semeia o terror” e o nosso grito será sempre uma “expressão vaga” - mais vale uma vaga do que a sua ausência (ou uma auto-inundação).

Anda vagar por aqui e faz-te ouvir, assim como agora o fizeste.