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5ª foto - O paparazzo

 
Tags:  Fotos - 10/10/2007  
 
Ficou pequeno, um homem de Lilliput, minúsculo!
Há dias em que mais vale estar calado e não dizer pevas a ninguém, ser mudo, fechar a língua a sete chaves. Sentiu-se igual a si mesmo, teve a noção do que era e isso era novidade. Que desconforto.
O gajo era um verdadeiro incontinente, no que diz respeito a falar dos outros. Era daquelas pessoas que tinha na secretária, uma caneta e papel cor de rosa. Um verdadeiro paparazzo sem máquina fotográfica... nem era necessária. As fotografias não vendem opiniões e essa era a sua especialidade... vender opiniões.
Naquele dia, enquanto rondava o bairro "rei do social" ( fazia-o todos os dias à procura de algo), deparou-se com um aglomerado de figuras à entrada da casa dos Meireles de Sá. Aquele magote de gente ilustre era anormal durante o dia e, ainda por cima, de manhã. Afilou o nariz e apontou-o.
Estacionou o carro uns metros à frente (mesmo em cima da paragem reservada aos cidadãos deficientes) e saiu com um pequeno gravador enfiado no bolso. Devagar, chegou-se e foi-se infiltrando. Tanta gente fina e bem vestida... roupa exclusiva, de corte assinado pelo estilista. Carros de topo. Plásticas e acrescentos em todos os corpos. Estava no paraíso! Agora só precisava de fazer alguém falar sem perceber que estava a ser gravado. E aquela gente era perita em "meter os pés pelas mãos" quando abria a boca.
Dirigiu-se, insinuante e de uma forma pronta, à menina dos Meireles de Sá. Tinha-a farejado desde logo. A filha dos anfitriões era uma presença cheia, embora ainda garota.
Abordou-a com modos de alegre pateta:
-Nini Meireles de Sá! – entoou, balanceando a conversa - Há quanto tempo?! Beijinho, beijinho! Como tem passado?
Sem se deter, disparou à laia de lulu que abana o rabo:
-Linda festa, com tantos ilustres do nosso social! A que se deve o evento?
A rapariga olhou-o e, com uma expressão que não se descreve, desfez-se em lágrimas e soluços, abraçando-se ao pescoço mais próximo esvaindo-se em desgosto.
Nessa noite, no regresso a casa depois de uma animada festa, o carro onde os Sr e Sra Meireles de Sá seguiam, havia sofrido uma colisão frontal, deixando-os sem centelha no próprio local. Não tiveram hipótese.
O gajo não sabia, não podia saber e nem olhou para a expressão das pessoas... havia roupas, carros e estilo... as coisas que realmente importavam.
Aquela sensação de ser expulso por olhares silenciosos, que mordem por dentro e por fora, marca. Marcou-o.
Sentiu-se mesquinho, ínfimo e saiu dali sem palavrear mais nada.

Valdevinoxis


A boa convivência não é uma questão de tolerância.


 
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Valdevinoxis
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 29/09/2011 23:23  Atualizado: 29/09/2011 23:23
 Re: 5ª foto - O paparazzo
Uma sequência de textos muito muito interessante.
E nada de comentários...
É normal, é o Luso Poemas.
Andam aí a comentar textos de bostas e etc.
Eu era para ir e não voltar mesmo mas voltei e queria dar um contributo positivo.
Mas não sei... ainda há você e alguns outros.
Isto podia ser um "local" especial. Como já foi. Lembra-se?
Que é que há de fazer?
Escrever?!
Você sabe como.

Venha mais destes textos - eu leio.

Um abraço.


Enviado por Tópico
GeMuniz
Publicado: 30/09/2011 00:23  Atualizado: 30/09/2011 00:24
Membro de honra
Usuário desde: 10/08/2010
Localidade: Brasil
Mensagens: 7283
 Re: 5ª foto - O paparazzo
Contrastes emocionais. Choque. Incômodo. Falta muito disso no Lusos ultimamente, não? Afinal, quem por aqui quer ser incomodado? Pensar, para alguns, dói. Muito, muito bom. Foi um prazer ler este.

Abç


Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 30/09/2011 09:43  Atualizado: 30/09/2011 09:43
Usuário desde: 02/03/2007
Localidade: Queluz
Mensagens: 3731
 Re: 5ª foto - O paparazzo
Enquanto por aqui houver pessoas que escrevem assim(e não falo só deste texto em particular, que, aliás, está um mimo), não tenciono abandonar esta casa. Acredito na tal regeneração, é só uma questão de dar tempo ao tempo.

Mais um para partilhar e dar oportunidade para que outros o leiam, mesmo que não façam parte deste clube...