Poemas : 

[Fragilidade]

 
[Filosofia, lá no Sertão, é escancarada em linguagem simples, direta, sem cálculo sentencial — Memórias da antiga Fazenda Barreirão – Divisa MG-GO]

O grito lancinante do porco
morrendo à faca, desmontava
a minha caixa de costelas!
Reverberava aquele grito

tão forte, tão excruciante
tão faca em meu peito,
que eu tremia e fugia
para os currais, para os pastos.

Feito o silêncio, eu sabia:
já morreu o bicho, posso voltar.
Depois de aberta a carcaça,
meu olhar buscava o coração:

eu queria ver as escuras
bordas do corte, queria
ver onde penetrou a morte
no corpo do animal.

Mas só olhava ao relance,
e bem rápido, mais que isso,
não podia, não dava conta;
e de mais não precisava!

Também, era o que bastava
para eu me lembrar, num estalo,
de toda a fragilidade da vida,
de todo a inutilidade da corrida!
__________

[Penas do Desterro, 28 de outubro de 1998]

 
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crstopa
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 24/09/2011 19:12  Atualizado: 24/09/2011 19:12
 Re: [Fragilidade]
*Lembrei-me também...
Admiro tua palavra forte e tocante.
Grata pela partilha
Carinho
Karinna*

Enviado por Tópico
VCruz
Publicado: 26/09/2011 00:55  Atualizado: 26/09/2011 00:55
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 Re: [Fragilidade]
Interessante...meu Vô tinha fazenda e no dia de matar porco eu ficava muito agastada, não aceitava aquilo, até porque, eu sempre fazia "amizade" com os porcos que iam para o abate...então, meu avô pedia a voinha, que me tirasse de casa. Saimaos para o rio, ficava sempre fora...um dia voltamos antes de "tudo" se consumar...jamais esqueci aqueles ultimos gritos...eram "gritos"...e sabe...hoje que moro em uma cidade grande, muito barulho, muitos moradores de rua...algumas vezes na noite acordo com gritos...agora nesse momento voce me fez recordar dosultimos gritos do porco morrendo...são muito parecidos...e no final...somos todos animais...
Desculpa...viajei!
abraços
Valéria