O dia está com cara de triste... Mas quem disse que chuva é tristeza? Chuva é a lágrima de Deus sobre os homens que desce para abençoar a vida, para fazer nascer o verde, e garantir a Primavera que já se traduz em pequenos botões de rosas, em ternas florezinhas. E através da janela, vejo o bailar das borboletas, “sinuosas bailarinas”, que, com todo encanto e graça, festejam o prenúncio de flores frescas e num fascinante balé beijam as flores como que depositando e colhendo segredos em seus perfumes.
A manhã está calma... E eu sonolenta, confundindo a tristeza com a minha poesia louca, pois “poeta é um louco sem diagnóstico”. Mas, o que seria da poesia se os poetas fossem sãos? Quem cantaria o amor, este sentimento que enlouquece? Quem poria melodia na tristeza? Quem exaltaria a solidão? (É preciso ser triste para ser poeta...) E continuo a pensar neste final de inverno que tece um véu fininho como uma cortina d’água, brindando a nova estação. Perfume no ar... Tecendo versos em flores no silêncio dos jardins. Magia no olhar, sonhos como pétalas. É a vida, o passar das horas, a mesma estação em outras auroras, a magia de ser e de estar no agora, o renascer da vida, no tic-tac das horas.
A natureza é mãe atenta e pinta, para o deleite do homem, mais uma vez esta paisagem colorida que faz sonhar - que nos venha a primavera colorir de certezas as esperanças, que traga nas avencas doces lembranças, substituindo as tristezas, pintando de alegria os corações.
(Ednar Andrade).