As muralhas viraram cinzas
Segundo de Outubro não existe mais;
Rosas vermelho, pétalas soterradas
O sangue liberto do detento, pelo ralo, pela escada
A estatística é que a maioria não foi julgada
Utopia da notícia, jornalista excomungada...
Entraram em choque com o choque
Milhares de órfãos e viúvas de luto
Deixem as crianças esquecerem
De Outubro no dia segundo.
Que estação estamos Senhor Maquinista?
Deixa pra lá seguiremos adiante.
Forraram o pátio com tapetes vermelhos
Para que o Senhor Governador pudesse passar
Naquele temido lar outrora de presos
Com os cães é claro que vieram ladrar.
Trezentos e sessenta e quatro dias
Segundo de outubro não existe mais...
Quem se lembra das torres gêmeas?
Serão apagados onze dias de setembro?
Amanhã o calendário será o mesmo
Eu sinto medo!
As muralhas viraram cinzas
Muralhas da china, e do Carandiru
Que fazer com tantas almas soterradas
O céu entardeceu vermelho ao invés de azul;
As paredes não precisam de descanso
Que estação estamos mesmo Senhor maquinista?
Certamente Dráuzio não trabalharia em vão
Se toda carnificina não pudesse encher um vagão
Por toda cidade algemada e gemida
Como na letra de alguns bens Racionais...
Talvez pudesse virar calendário manco
Ou exaltar atores nas telas da mídia
Acontece que estão falecidos os protagonistas
E onde estão os Senhores homicidas?
As muralhas viraram cinzas
Segundo de Outubro não existe mais;
Que estação estamos mesmo Senhor maquinista?
Pare porque preciso descer.
Marcelo Henrique Zacarelli
Homenagem as mais de 111 almas brutalmente assassinadas
No presídio do Carandiru no dia Dois de Outubro de 1992.
Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli
Mauá, Fevereiro de 2006 no dia 20.