[Rumo às vazantes do Rio Paranaíba, divisa MG-GO, vamos eu e o meu burro castanho...]
***Fragmentos de Autointertextos do Caderno 3:
THE BURNING SANDS ***
____________
Areia em brasa,
pedaços de ossos secos,
troncos semienterrados,
caveira de boi,
rochas nuas.
Antes, ali passava um rio,
agora, por ali caminha este menino.
[Penas do Desterro, 13 de novembro de 1999]
_____________
***FRAGMENTOS - ESCÓRIA DA MEMÓRIA ***
O piado langoroso do nhambu amplia o ermo
além da conta do olhar, até o fundo do meu peito.
Na branca areia em brasa,
calhaus e restos de ossos secos;
troncos lavados, semienterrados,
extintas árvores no leito seco do rio,
caveira de boi afogado rio acima
trazida pela enchente passada.
Nas rochas nuas, quentes do sol, marcas
dos piões de ferro das rodas dos carros de bois.
A cruz lavada das chuvas é a única marca
da sepultura, uma cova rasa, de gente pobre;
no barranco vermelho, tufos de capim seco,
e o buraco do tatu-teba, comedor de defuntos.
O choro é desimportante, cai no ermo,
atesta que em lugar do rio vivo, há um cemitério.
Levo o meu burro de carga pelo areião infinito,
filosofo no cholocho macio das patas no cascalho;
sonhador de olhos incendiados, caminho eu,
um menino escavador de mistérios...
Há um Brasil que morre comigo,
raros olhos o viram, mas quem se importa?
[Itapetininga, 13 de novembro de 1999]