Sou eu o teu macho, o teu homem,
O riacho onde mata tua sede
O alimento que mata tua fome!
O fogo que te queima e te consome
Sou eu...
O teu paraíso perdido, o teu amor;
O tecido aveludado da mais bela flor
Teu deus sou eu...
O teu amor, o teu amado,
Teu ninho e cobertor,
Teu refrigério e afago!
Sem teu carinho nada no mundo me basta.
Hoje amanheceu adormecida nossa casa
E as plantas da janela, acredite, choraram.
Amanheceu de um céu sem fogo e incolor.
Tive a pedra fria da melancolia de travesseiro.
Minhas omoplatas repousaram em chão imundo.
Hoje o sol não ousou beijar as tulipas do terreiro.
Até os passarinhos pareciam estar em sono profundo.
A tua ausência fez ficar infeliz nossos pomares.
Feneceram por inanição os cravos e margaridas.
Nunca mais veio nos visitar a varanda, a cotovia
E o sabiá foi reinar em outros mais colores lares.
Na laranjeira queda uma folha de alma ressequida.
No rosto de um homem rola uma lágrima amarela.
Um vento insiste em balouçar as plantas da janela
Que com todo amor do mundo cuidava todo os dias.
Mais que Jô amaldiçôo o dia do gozo impuro
Responsável pelo meu nascimento e do leite
Que bebi em dias de Romantismo exacerbado
Em que eu fumava não sei quantos baseados
Na tese de idéias e ideais que eu ainda não tinha.
Que me importa Plutarco com suas biografias
Ou Voltaire com seus chiliques de pária patriótico
Ou Platão com suas patéticas cavernas e filosofias?
Que me importa,
Então,
Essas linhas tortas
Sem coesão,
Sem intenção
De coexistir
De co-habitar
(Apenas de divertir
Quem ousar ler...)
Fico a lembrar do poema
Do Pessoa que diz que quando
Sem tem a alma pequena
Nada vale a pena.
Fica a pensar e vejo que assim
Que faço poesia,
Esquecendo um pouco deste
Mundo e de mim.
Assim dou asas à fantasia
E começo a viajar, igual aquele
Dia, assim:
“Lá longe se vai uma solitária abelhinha
Cortando o céu num vôo azul e mágico
Bebendo o mundo em olhos facetados
Bailando sobre a relva macia da campina...
Vai dançando numa dança lasciva argentina
Pousando nas ramas violáceas das flores
Numa tarde de primavera com todas as cores
Acolhendo o astro rei por detrás da colina...
Quantas esperanças carrega consigo
Naquela labuta diária de flor em flor
O sol sendo guia pelo espaço infinito
Mostrando a magia da mão do Criador...
Vejo o Amor como àquela bela abelhinha
Que vai voando, beijando as flores do chão.
Porém o Amor é a abelhinha da vida
Bailando suave pelas campinas florida
Nascidas no terreno fértil do... Coração!”
Gyl Ferrys