[Excertos impressionistas da monocórdia lira dos infernos...]
Ah! Essa minha doença,
essa minha reatividade ao mundo...
Neste dia chuvoso,
Penas do Desterro me arrasa de tristeza!
Pensamenteando sobre verdes tempos,
caminho pela calçada pisando os encharcados
montículos de folhas caídas.
O meu olhar circunvagante captura cenas banais:
jornais molhados, cães morrinhentos,
águas empoçadas,
um gato solerte atravessando
a calçada a passos escolhidos,
pedreiros erguendo altas paredes
sob a chuva insistente,
a gente das lojas já aprestada para a mesmice,
a fumaça dos cafés nos balcões das padarias,
a espera elastecente na ante-sala de um médico,
e por fim, a ânsia de voltar para uma casa vazia —;
intercorrências absurdas da mesquinhez desta cidade
nas minhas aéreas visitações de épocas várias,
tempos de chuvas portadoras de esperanças ensolaradas,
que aqui, em Penas do Desterro, nunca poderiam existir!
Ruas... casas dormentes... gentes... segredos...
Ah... Borges! Maldito Borges e o seu "Livro de Areia"...
o livro que não tem fim! Pudera!
Nessa Terra dos Homens, não têm fim,
nem a Areia, nem o Livro,
nem essa minha dor "de ocos",
e nem tampouco esses mistérios
que os meus olhos cavam nas coisas
e nas estações onde a vida se demora em vão.
A chuva... e a manhã se esvaindo,
lenta, num choro contínuo,
ah, eu sou um doente,
irremediavelmente, um doente!
Com efeito! Você, minha amiga,
que diz gostar de mim,
de nada sabia; nem sequer conjeturava
o desvario que o meu sorriso disfarçava;
mas que azar o seu, hein? Que azar!