Na tarde sem pressa de morrer,
ruas calmas conduzem-me ao lar.
Ali, tocadas de penumbra e silêncios,
suavizam-se as cortantes arestas das coisas.
Sobre a mesa nua, o jornal velho,
a faca sem corte, o pão de ontem;
e perto da janela, as flores amarelas,
último cuidado de suas belas mãos!
Ela não vem: estou só e não espero ninguém;
mas não me importa estar sozinho,
e nem tampouco se a casa está fria;
nada me importa — exceto o medo de perdê-la!
A minha frente, tenho uma noite vazia,
e o copo de vinho fará o milagre do sono.
No dia seguinte, picado de amargura,
olharei aquele vaso de flores amarelas,
pensarei que ainda há pouco ela as tocou;
depois, vestirei minha capa de gabardina,
fecharei a porta da casa silenciosa,
e, bem devagar, caminharei pela calçada.
Ruminarei as minhas velhas esperanças,
e me direi novamente que a vida é morte.
O meu dia será como todos os outros:
vazio, sem compromissos — sem agenda!