É quase manhã e não durmo.
perdi o sono onde perdi a alma
deixada coalhada e muda
nos silêncios que a noite enjeitou
ou talvez apenas me tenha deitado calado
com o peso das luas magras
onde procurei saber quem sou.
Amanheceu sem aviso nem som
e eu já nem sinto o vento que restou,
apenas me deixo enlevar na angústia
de não saber se o dia novo
traz no regaço as trépidas vozes
do que se passou,
algures em parte alguma do silêncio
que em mim se quedou.
Nasceu o sol nas costas do meu olhar
enquanto o sono não espreitou,
caiu a noite no cruel afago
onde as verdades se atormentam,
sem sofrer castigo algum
como se entre tantas noites assim
o tempo fosse uma corrida perdida
em toda a vida passada
na sombra de um enredo sem cor.
O dia ruivo de tanto desbarato
vai correr à minha ilharga
e eu sei que outra noite sem receio
me vai encontrar algures por aí
para no seu devaneio de insónias
me alvejar e anoitecer
por capricho apenas seu
de me ver perder a alma
onde também perdi o sono.