Naquela tarde cinzenta e fria de inverno
Logo após o enterro de minha amada;
Caiu sobre mim a penumbra em meu quarto
Escureceu a consciência, congelo-me a alma;
Restaram-me pensamentos retorcidos do passado
Um cântico fúnebre ecoou em meus ouvidos
Os jardins tornaram-se mais empobrecidos
Fazendo-me sentir o amargo perfume das rosas em desespero;
Estas mesmas rosas enfeitavam uma viagem sem sentido
A terra tragou parte de meu corpo, cuspiu a dor no intimo de minha alma
Furtou um sentimento sóbrio, minha sina que agoniza no silêncio;
A história contra diz a própria estória...
Você se perdeu em meio às cinzas, se vestiu de negro
Embriagou a lucidez, despiu-se dos meus olhos e desapareceu
Tua voz calou o meu desejo de gritar
Não se pode colher sem antes poder plantar;
Tristeza que ficou pelos caminhos que passar
Não há com quem dividir a dor, ossos quebrantados que restou
Não me falem nada sobre amor, não quero lembrar o que passou;
Onde quer que eu vá te levo no olhar, em meu viver, meu pesar...
Como a semente que nunca Morre, vive você dentro de mim
Vou esperar o dia em que os túmulos vomitarão os seus mortos
As entranhas das celas que acorrentam sentinelas
Vou aguardar ansioso o silêncio das tumbas se quebrarem
Como o cair da folha sobre a chuva;
Enquanto viver a esperança de encontrá-la dentro de mim
Não será sepultada com teu corpo.
Marcelo Henrique Zacarelli
Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli
Itaquaquecetuba, Setembro de 2001 no dia 25.