(Pintura a óleo sobre tela de Gervásio S.L).
Olha em volta e respira fundo: vai ter que voltar. O coração aperta-se-lhe e os olhos parecem querer gritar, sob a forma de lágrimas, um apelo para ficar. A partida é certa, existem compromissos que a esperam, uma agenda a cumprir, trabalhos a executar. Mas, se dependesse apenas e tão-somente de sua vontade, do seu sentir, ficaria, com toda certeza do mundo, no seu Éden pirangíaco.
Pressentindo a despedida – que em verdade será breve – as folhas do cajueiro cessam o farfalhar; o Sol ameniza, como que entristecido, a ardência abrasante de seus raios; o vento cessa, como em respeito ao momento da ida e a lagoa, por um instante, deixa de produzir ondas.
É hora de partir, deixar para trás a leveza desse jardim de sonhos, onde a realidade contradiz com sua vontade.
Arruma as malas, as coloca no carro e dá uma última olhada em sua Pasárgada: verde, repleta de plantas, flores, árvores, mas, também, com uma lagoa e um morro. Os olhos represos lhes traem e deles saem uma lágrima sentida.
Entra no carro, bate a porta, fecha o vidro, olha pelo retrovisor a imagem de seu mundo diminuir até sumir na paisagem. O caminho se abre para si como uma serpente de areia a guiar-lhe para longe de sua felicidade.
No coração um único desejo: ficar. Ficar ali, onde o verde representa todas as cores, onde o cheiro das mangabas traz todos os sabores. Ficar... Ali onde as manhãs acontecem como magia e o Sol lhe bate na janela com um dourado sem par.
A tarde caía e o Sol pintava de rosa o céu... O rastro preto da estrada a afastava mais e mais de seu paraíso... E partia... Com o desejo de ficar, mas a certeza da volta...
(Danclads Lins de Andrade).