[Será que um dia saberei por que escrevi isto?]
No quarto invadido pela noite,
na cama banhada de lua fria e solitária;
sob os lençóis macios, suavemente perfumados,
retalhos de lembranças de horas de prazer...
Do vasto e silencioso quintal enluarado
vem o flap flap macio que o vento
faz nas roupas penduradas no varal —
Mas por que isto me angustia? Afinal,
é só um varal de roupas não recolhidas...
Lá fora, de lado a lado na rua deserta,
as sombras das árvores: fantasmagorias lunares...
Silenciados os passos, as rodas e as patas,
a pedras se orvalham, se emudecem, e dormem...
Nada, nada... da rua, o nada vem a mim!
Só, no meu quarto de abandono,
eu, louco, louco, abraço a lua,
e apenas choro a tua perda...
que é também a perda de mim!
E choro baixinho, baixinho...
quero sim despertar o meu jardim,
mas que os meus cultivares
não se molhem do meu choro!
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[Penas do Desterro, 03 de setembro de 2011]