Norma ficou satifeita com o convite que acabara de receber pelo telefone: Iria estampar a capa de uma importante revista, dirigida à alta sociedade...
Tantos anos de trabalho para subir na vida e dedicação foram finalmente reconhecidos!
Ela provinha de família humilde, lutou, conseguiu chegar aos seus objetivos, e hoje, tinha tudo que quisesse, mas foi bem duro no início...
Não gostava de lembrar dessa parte, porque a fazia chorar.
A filha, Noely, entrou na sala perguntando:
_ Quem era mamãe?
_ Uma revista, filhinha. Vão fotografar a mamãe para a capa do mês, com entrevista e tudo!
_ Que bom, mamãe, posso ficar quando eles chegarem?
_ Claro, meu amor. Desde que fique quietinha, só olhando.
_ Tudo bem mãezinha. Você acha que quando eu for dentista, vou ser importante assim, e tão linda quanto você, para me entrevistarem?
_ Tomara, filha, tomara...
Deu-lhe um beijinho na face, e disse para que fosse brincar, porque iria se arrumar para receber a visita da revista.
A menina saiu da sala e foi para o jardim, assim quando eles chegassem, seria a primeira a recebê-los...
As fotos foram tiradas, a entrevista realizada, e depois enviaram um exemplar para Norma.
A revista foi colocada na grande sala, à vista de qualquer pessoa, em cima de um aparador para seu orgulho, certo que qualquer um que ali chegasse, daria uma espiadinha na revista...
E assim ficou por anos a fio, sempre no aparador para que estivesse à mostra.
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A velhice de Norma chegou com muito desgaste: Memória fraca, quase não enxergava devido às complicações pelo diabete, esclerose e outras coisas, de dia ficava sentadinha no consultótio de Noely, que tinha se formado em odontologia, como sempre quis desde pequenina.
À noite, quando estava em casa, era uma enfermeira que cuidava dela, e do que precisasse, para que Noely saísse um pouco.
A revista de tantos anos estava amarelada, mas agora ficava no consultório de Noely, onde Norma passava o dia inteiro, vigiada pelos olhos atentos da sua amorosa filha. Todos os dias, Norma ao chegar ao consultório, pegava a revista no cestinho de revistas ao lado do sofá, na sala de espera. E mesmo sem ver direito sabia que era ela, e se perguntava na sua mente já deturpada pela esclerose e outras doenças, porque eles nunca trocaram a capa, sempre seria ela? Sua beleza era eterna?
Numa manhã, uma faxineira desavisada ao limpar com o espanador as revistas, percebeu se tratar de uma revista antiga, então a colocou por baixo das demais. Deixando as mais atuais em evidência.
Norma chegou e procurou sua revista, não achou, em vez disso, percebeu um exemplar da mesma revista, tendo na capa, uma modelo da moda.
Ela deu um suspiro, olhou os braços enrugados, percebeu então num instante de lucidez que tinha envelhecido, deixou cair uma lágrima, fechou os olhos e simplesmente faleceu...
A capa da revista a manteve viva por anos, agora 'morria' com ela...
Fátima Abreu