Eu precisava, preciso ainda...
de uma ilusão como norte;
mas caminhei entre espelhos;
e te vi, te vejo, em mil imagens,
especulares imagens, alucinações,
posições de gozo que inventamos
em horas de soltura das nossas mentes!
Eu insuporto a perda do futuro,
e tu és uma futuração além,
além do meu abraço,
muito além do meu laço!
Tu estás no Amanhã, e assim,
estás, estarás, onde eu não estarei -
sei do cálculo de probabilidades,
nunca fui muito bom neste cálculo,
mas sou suficientemente lúcido
para saber que o Amanhã só te pertence.
Saio agora... Perdoa-me, se podes...
Isto é, se podes enxergar nossa cena
através desta efêmera fenda do tempo
que ligou o teu mundo ao meu mundo.
[Uma taça de vinho me socorre agora;
experimenta, te dará aquele
muito necessário esquecimento]
Eu vejo bem:
se eu não soube viver-te,
eu devo apenas saber morrer-te.
[Desterro, 29 de agosto de 2011]