Poemas : 

Vontade de fazer nada

 
Num destes dias
Em que escorrem águas frias
Pelas paredes abaixo,
Deixou-se ficar sossegada
A vontade que pendia em cacho
De uma viga atravessada
Naquele quarto de paredes sem cor
Que me resguarda do frio e do calor.

Agarrado a uma preguiça,
Suave e lenta,
Escorregou por gorda liça
Que nem se esgota nem se tenta,
O espírito que se agarra e contenta
Com o não fazer porque não quer.

Nestes dias de mole letargia,
De cara taciturna,
Vem nascente e sombria
A noite mais diurna
Que alguém desejaria
Guardar na algibeira
Para depois a tirar, assim o queira
E deitá-la entre o quente e o morno...
Mesmo na fronteira do ermo com o termo.

Valdevinoxis


A boa convivência não é uma questão de tolerância.


 
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Valdevinoxis
 
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Enviado por Tópico
VeraCarvalho
Publicado: 11/10/2007 22:25  Atualizado: 11/10/2007 22:25
Super Participativo
Usuário desde: 13/02/2007
Localidade: Amarante/Porto
Mensagens: 170
 Re: Vontade de fazer nada
Esta escrita não foi feita de preguiça.
Mas que belo versejar Valdevinoxis!
Não guardo a noite na algibeira, mas guardo o poema.
Um abraço.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/10/2007 22:35  Atualizado: 11/10/2007 22:35
 Re: Vontade de fazer nada
Memórias de um alentejano, e bem escritas, porra.

Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 11/10/2007 22:37  Atualizado: 11/10/2007 22:37
Usuário desde: 02/03/2007
Localidade: Queluz
Mensagens: 3731
 Re: Vontade de fazer nada
Uma preguiça que se estende ao longo de um poema bem engraçado e cheio de vontade de... não fazer nada

Beijo

Enviado por Tópico
lucia machado
Publicado: 11/10/2007 23:44  Atualizado: 11/10/2007 23:44
Super Participativo
Usuário desde: 19/07/2007
Localidade:
Mensagens: 143
 Re: Vontade de fazer nada
Belo poema!!


Realmente...há certas alturas da nossa vida, que não apetece fazer mesmo nada!
Dá um vontade enorme de parar o tempo!!

Algures entre a solidão e o sossego...
A Alma por vezes precisa mesmo dessa paz!

Gostei mt

P.S. Como as palavras que escrevemos, traduzem o que sentimos...
Deixo aqui um poema que escrevi, espero que goste


*****

Eis-me a nu



Eis-me a nu...nestas linhas que escrevo!
Desatino das palavras…alma em degredo
Flúem por entre os dedos, a antítese do coração
Decalcada em papel mata-borrão

Como vento ou água corrente…
Translúcida, fica a memória novamente
Um esboço, a aguarela pintado, em agonia
Sobre a tela do artista…um rosto, que eu vi um dia

Trago na ponta da caneta, historias da uma vida
Poemas indiscretos…como uma luz que surge indefinida,
Preservados num baú vindo do Oriente…
Onde jaz o descontentamento…roçando em mim asperamente

Refresco a alma, no embalo das palavras que me dominam
Ondas de sentimentos, que a minha vida iluminam
A voz, que por vezes enfraquece…
Deposita a esperança nestas linhas, poemas, que não esquece


(Lúcia Machado)

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/10/2007 23:48  Atualizado: 11/10/2007 23:48
 Re: Vontade de fazer nada p/ Valdevinoxis
Mesmo a dizer do ócio, o seu texto é a imagem do ócio criativo, desperto, naquela "fronteira do ermo com o termo"!
Adorei ler!
Isabor