Crónicas : 

NÓS E A SOCIEDADE

 
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Retrogradando no tempo, conseguirei sem dificuldade alcançar os sessenta anos, quero dizer, recordar episódios ocorridos vai lá já esse tempo.
Morava eu ainda na infância e são naturalmente incontáveis as situações de todo o quilate acontecidas comigo ou de que fui testemunha. Algumas a mexerem mesmo com o mais aguçado da minha sensibilidade.
Recordo por exemplo que em determinada época do ano atravessavam as ruas da vila grupos de mancebos em que se evidenciava o toque, regra geral pouco apurado, da concertina. Não tardei a saber que eram rapazes que tinham sido submetidos à inspecção militar e apurados, já que o chumbo era mais ou menos desprestigiante. Mal sabiam esses quase homens de barba rija o que os esperava nesse nosso então Ultramar, onde se travava já uma guerra surda e se ia morrendo com falsa glória.
Os tempos passaram, as «colónias» ganharam a sua independência e a guerra, depois de ainda longos anos de luta sem tréguas entre facções diversas acaba por extinguir-se, por um elevadíssimo preço humano.
Vão já lá hoje mais de trinta anos que terminaram as ditas desgarradas da juventude apurada para o serviço militar mas – e é isso que nesta hora me motiva – essa energia própria dos vinte anos não se limitou a ver-se privada da guerra, (o que de resto há muito se impunha) mas simplesmente e imperdoávelmente desaproveitada.
O que penso – sempre com respeito por quem pense de outra forma – é que essa juventude deveria ser mobilizada não para a guerra (vá de retro) mas, durante algum tempo ( porventura um meio ano) para um sem fim de actividades a que poderemos chamar de serviços cívicos e que abrangeriam coisas fundamentais como por exemplo cuidados primários de saúde, limpeza das matas, e acções de voluntariado de muita natureza, que contemplassem alguns grupos mais carenciados. Estaria aí uma actividade que despertaria nos jovens um mais apurado sentido dos outros, das suas necessidades. Quero dizer que estamos a perder uma excelente oportunidade de crescimento humano que só nos dignificaria e poderia até servir de exemplo para outros. Isto é o que eu penso.

antonius

 
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luciusantonius
 
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