Uma densa névoa torna o ambiente quase invisível. Aos poucos meus sentidos acordam e a primeira sensação que tenho é a de algo obstruindo minhas narinas: obrigo-me a inspirar mais fundo, meio sufocada, e o ar entra por meu nariz como se fosse palpável... Tento tocar meu rosto, que percebo um tanto dilatado, mas, estranhamente, não consigo. Parece que um capacete invisível envolve minha cabeça. As pontas dos meus dedos só conseguem chegar até cerca de uns 15 cm da face...
Aos poucos a respiração torna-se menos penosa. Meus olhos começam a perceber formas: estou sentada à frente de uma enorme mesa em forma de semicírculo. É de um branco translúcido, maculado apenas por minha bolsa preta com espaço próprio para o celular. Do outro lado, uma pilha de livros e meus óculos de leitura. Instintivamente tento levá-lo aos olhos, mas a barreira impede o gesto. Quando vou recolocá-lo sobre os livros, reconheço o de cima. É uma gramática do Bechara. Desfaço a pirâmide. São todos de português. Incrível como consigo ler os títulos, apesar de estar sem óculos e num lugar tão enfumaçado. Ao folheá-los, um poema escrito por mim liberta-se da página, trazendo-me a certeza de que são meus os livros que estão sobre a mesa desconhecida...
Olho à minha volta e percebo as paredes ovaladas, de um branco mais opaco. Bem atrás da confortável e original cadeira onde estou, uma espécie de quadro-verde côncavo. O título Metáforas está acima das anotações. Todas escritas com a minha letra!
Aproximo-me do quadro onde estão alguns bastões luminosos. Uso-os para escrever meu nome e comprovo que todas aquelas letras brilhantes foram escritas com eles.
Carinhosamente,
Íris Galvão.