A chata da vizinha do primeiro andar
Eram dez horas da manhã, toca a campainha, Alice foi ver quem era, espreitou pelo olho mágico e lá estava ela sorrindo, a Andréia de cabelos pretos e algo na mão, a tão metida vizinha do primeiro andar, Alice pensou com os seus botões, já tão cedo, é dose.
Parada ali em frente à porta ela ponderou; vou fazer de conta que sai, descalça-a tenta ir para a cozinha, mas escuta a voz mais irritativa do prédio:
- Alice, eu sei que estás ai, eu fui à garagem e o teu carro está lá, abre que te quero contar uma novidade.
Alice sabia que ela não ia sair dali, melhor era abrir e ver que a Andréia queria falar. Descontraída ela grita alto:
- Andréia espera, eu acabei de tomar banho, já abro a porta para ti.
Num toque de mágica ela se veste e vai abrir a porta. Resignada com a seca logo de manha cedo, mas pensou consigo mesmo, era melhor assim senão seria a tarde toda. Enxerida como ela era melhor abrir e logo.
- Bom dia Andréia, que te traz aqui tão cedo?
Andréia com aqueles olhos brilhantes, responde:
- Não sabes o que aconteceu? No andar debaixo de ti? Veio policia a tudo, ora não sabes mesmo?
Alice pensava consigo mesmo, esta mulher não aprende, a coceira na língua é demais, coitada da que cair na sua malha que ela detona até desfazer a sua vida.
Responde já mal encarada:
- Não Andréa. Não sei não, eu nada tenho a ver com a vida dos vizinhos e sinceramente sabes que não gosto de falar da vida dos outros.
Ela tinha cócegas na ponta da língua e a língua bem afiada, mesmo vendo Alice ficar mal humorada ela tinha que contar.
- Olha parece que o casal andou a pancada, foi feio mesmo, segundo o que se fala ali na padaria, as pessoas que os conhecem melhor, já era de esperar, dizem que eles faziam vida de ricos e andavam sempre na noite.
Alice já estava de saco, cheio de escutá-la, encolheu os ombros enquanto fazia o café. Andréia é que não parava de falar.
- Olha a Dona Emilia falou que, parece que eles perderam tudo, já viste? Quanta vaidade e olha estão mais tesos que eu.
Os olhos brilhavam no rosto da Andréia, ela estava feliz com a desgraça dos outros, isso estava a irritar profundamente, afinal a minha perda de tempo em ensiná-la a se mudar e não resultou, apenas foi uma pura perda de tempo.
Cansada Alice, exclama:
- Ok, Andréia, chega, cansei, tu me fazes mal, logo de manhã ninguém agüenta, puxa eu pensei que estavas a tornar uma pessoa humana, com outros valores. Por favor, vai embora e não voltes mais a minha casa.
Andréia, não se tocava, falava sempre enquanto Alice abria a porta de casa e pedia educadamente para ela sair.
Alice ficou triste, conhecia o casal, eram simpáticos e sempre foram bons vizinhos nunca se meteram com ninguém.
O dia já amanheceu escurecido, cheio de maldade, isso lhe fez um mal terrível e um peso grande nas suas costas. Foi tomar um bom banho, estranho escutava gritos dentro da casa de banho. Não ligou, arrumou seu quarto e decidiu ir tomar seu café da manhã.
Sai no elevador, para no primeiro andar, ela rezava que não fosse a Andréia, mas Deus parece que não a escutou, a porta abre e ela a vê com um saco de viagem e escutava os gritos do seu marido;
- Sai desta casa, desgraçada, por favor, eu já não agüento mais, cala-me essa boca maldita, o menino fica comigo e vai embora, vai embora desta casa. Foram quatro anos pensando que ias mudar, mas não, pioraste a cada dia mais, vai, por favor, embora, desaparece da nossa vida de uma vez por todas.
Andréia chorando entra no elevador, ela não sabia que estava ali gente e ainda por cima a sua amiga Alice. Cabisbaixa ela, diz:
- Estava aqui Alice?
Alice respondeu:
- Sim estava sim, ia tomar café, lamento muito por ti e pela tua família, avisei-te vezes sem fim que parasses de falar dos outros. È atirar as pedras para o telhado do vizinho é fácil sim, mas tu te esqueceste que o teu também era de vidro.
Andréia chorava sem parar, pediu-lhe entre soluços:
- Fica um pouco comigo.
Alice até lhe apetecia ficar sim e consular a Andréia, mas era errado, aquele caminho ela teria que percorrer sozinha, Alice respira bem fundo e ganhando coragem e responde seco:
- Não vou ficar não, não mereces, é hora de acordares e saberes como é bom estares no lado contrário. Espero que te tornes numa pessoa bem melhor. Felicidades para ti.
O elevador para, ela sai para a rua, na porta do elevador fica Andréia, desnorteada e chorando como uma criança sem saber o que iria fazer da vida.
Moral da história é fácil falar e viver, as vidas das outras pessoas, mas aqueles que o fazem se esquecem de viver a sua própria vida tornando-se pequenos demais e mesquinhos, um dia o cosmos também conspira a seu favor trazendo todas as correções e juros. Sempre quero ver a grandiosidade do ser humano nesses momentos.
Betimartins
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