(Julgamento de Dreyfuss em Rennes, 1899: 10 anos de prisão para Alfred Dreyfuss baseado em falsas provas).
Agora estava ali. Novamente estava ali, naquela mesma Corte Militar para rever seu julgamento. De repente, no meio da leitura do relatório, ele se abstrai e deixa de ouvir o que ocorria em seu redor para pensar em tudo que vivera nestes últimos anos.
Recordou as acusações injustas que lhes foram feitas, os dois julgamentos que o condenara, a repercussão que houve em seu país, no ódio popular contra a sua pessoa, na degradação militar diante das tropas (a humilhação de ter todas as patentes arrancadas e a espada quebrada a vista de todos), a carta que entregou à sua esposa Lucie, rogando por defesa... Veio-lhe então, à mente, o semblante de sua esposa – tão jovem antes, tão envelhecida depois pelo sofrimento! Lembrou-se de Picquart – seu incansável defensor -, de Zola e o seu manifesto (J’Accuse) em sua defesa. Visualizava, agora, o pórtico da Ilha do Diabo, aquele inferno sul-americano, onde sofrera anos e envelhecera séculos.
Estérházy... E lembrou do oficial de origem húngara. De repente, um sorriso irônico flui dos seus lábios e ele diz em voz baixa: - Estérházy... Todo seu sofrimento, toda a humilhação, culpa dele. Os planos secretos vendidos ao exército alemão, a sua denúncia e tudo que adveio disso.
Mas, agora, voltara à realidade a tempo de ouvir as últimas palavras do juiz, absolvendo-o de qualquer responsabilidade. Sentiu-se como que, tudo aquilo ali, fosse uma outra realidade, melhor dizendo: não era com ele... Mas era. Ouvira gritos de alegria e um unânime “Viva Dreyfuss”, ao que ele interrompe e diz: - Não, viva a verdade!
(Danclads Lins de Andrade).