Nada entre o céu e a Terra acontecia sem que ele o ordenasse. Assim criam os seus súditos. Detentor de um império vasto, dono de imensas porções de terra, senhor do destino de países e de nações. Supremacia viva! Potestade a viver entre os mortais! Ornamentos em ouro, marfim, lápis-lazúli, prata, peles de animais, tudo para o seu conforto e realização dos seus caprichos, tudo lhe era comum, banal. Organizava exércitos; determinava a invasão e a extinção de países; subjugava aqueles que se colocassem em seu caminho.
Herdeiro legítimo de uma dinastia primeva, legara do pai todo um império. Para ele, como para seus antepassados, não haviam limites; nem mesmo o panteão dos deuses lhe colocavam rédeas, afinal ele, também, era um Deus! Seu nome ecoava com reverência e medo entre as bocas das gentes. Reverenciar-lhe era um dever obrigatório, cuja desobediência seria punida com a morte. Sob seu comando foram erguidas pirâmides, templos, cidades, sempre opulentos, reluzentes, de uma brancura ímpar. Seus caprichos eram ordens a serem cumpridas imediatamente, sem o menor protesto.
Vivera, reinara, dominara. Sob seu reinado o império se expandiu, a população aumentou com as conquistas dos países vizinhos e dos países distantes. Desde reinos mais desenvolvidos: Núbia, o Reino de Axum a povos menos desenvolvidos: bérberes, beduínos, etc., todos lhes deviam tributo, reverência, obediência. Senhor de homens livres, felás e escravos.
Presumiam-no imortal, acima de tudo e de todos…
Picaretas, talhadeiras e outras ferramentas produziam sons metálicos no meio do Saara. Alguém, então, grita em árabe, fazendo com que todos corram para ver do que se trata. Um buraco na pirâmide que dava passagem a uma escadaria e, no fim, uma pedra vedava a passagem. Era uma tumba e, segundo os estudiosos dos hieróglifos: uma tumba real.
Removeram a pedra e viram um sarcófago coberto de poeira com poucos detalhes em ouro, lápis-lazúli e marfim. Ao abrirem o sarcófago, viram uma múmia. Era a múmia de um faraó que, milênios antes, era considerado um Deus vivo, entre os egípcios.
Encontraram-no, os arqueólogos, 3000 anos depois, despojado de toda esta opulência, resumido a uma carcaça enegrecida pelo tempo e embalsamada em um sarcófago carcomido pelos séculos, onde ponteavam fungos milenares e um odor insuportável. Estava envolto em poeira e areia do deserto.
Assim foi encontrado o Grande Faraó, o Ser Supremo do Egito, o Deus dentre várias nações: reduzido, espremido, esquecido em um sarcófago no meio do nada. E fico a pensar no ensinamento que vem de um outro povo que se presumia, igualmente, eterno: Vanitas, vanitatum! Vaidade das vaidades!
Ainda hoje muitos que se presumem poderosos, são cegos a ponto de não ver o futuro que lhes é reservado. O pó os espera de braços abertos e sem o perdão e a misericórdia. No final de tudo, o poder se converte em vaidade, em “tola vaidade”…
(Danclads Lins de Andrade).