O sol adormece na vidraça, tinge de ouro o ambiente e espalha um sono leve além dos limites de inverno, fruto de seus raios, pelo chão, de encontro ao odor dos corpos, eclipsando suaves tons lilases, capazes de fazer entardecer.
Os espelhos, assustados como loucos, brilham em olhos de sábio, que veem nos caminhos arborizados, os sentidos das palavras dos poetas, e enxergam o fundo de um lago cristalino, nesses olhares mesmo a refletirem o azul de um céu ardente de paixão, a queimar como perfume, inebriando o ar.
Mas é já no escurecer, que pelo sombrio do tempo a chuva aparece, trazida por rajadas crispadas, e como que zombando invade o espelho d’ água feito adiante da janela, sua imagem de enquadrada ventania, marchetando-a de respingos entre o negro brilhante e o opaco.
E nas almofadas distorcidas imagens excitam-se, refletidas dos movimentos por galopes açoitados pela noite afora, inflamados defronte do inconsciente crepitar pelo fogo entre as nuvens pensativas e das mentes o feitiço que não mentem as paredes!
Miguel Eduardo Gonçalves-