Minha alfabetização...
Íris Galvão
Fecho os olhos para ver com nitidez
o passado embaçado pela vida
e assim eu ouço: “era uma vez”
e relembro minha história preferida...
A voz de minha mãe é tão marcante
que o encanto da história é preservado:
a mesma história é sempre emocionante,
tem sempre algo ainda não notado!
A pobre Rapunzel apaixonada
ganhou da minha mãe um lindo pente:
se estava das tranças enjoada,
fazia um penteado diferente!
Mamãe nunca cortou os cabelos dela
e nem tão pouco os meus, eis a verdade!
Tínhamos a mesma sina, eu e ela:
a cabeleira tratada sem piedade!
Se minha pele era esticada pelo elástico,
o que o peso do príncipe não faria?
Nosso destino era mesmo drástico:
ver a testa crescer a cada dia!
Minha mãe, porém, dava um jeitinho
de tornar meu martírio suportável:
um lindo laço feito com carinho,
um elogio bem feito e sempre amável...
E o príncipe, pra Rapunzel, antes de vê-la,
escolhia uma linda lembrancinha:
uma bala-puxa ou uma estrela,
um anel de “ciranda, cirandinha,
vamos todos cirandar,
vamos dar a meia-volta...”
E voltando, eu percebo que o início
da minha alfabetização está nesse ponto:
a leitura pra mim tornou-se um vício,
desde a overdose desse conto!
Viajei intensamente com a heroína
que mamãe do seu livro libertou...
Nem sei dizer, pois era tão menina,
se foi ela ou mamãe que me ensinou!!!
Carinhosamente,
Íris Galvão.