Nesta solidão, que me desassossega,
com janelas fechadas para o fora,
e espelhos oblíquos, escarnecendo
de mim, está o meu eu, infecundo
e maltratado. Meus braços são setas,
que me trespassam, de lado a lado,
trazendo-me a agonia, dos dias sempre
iguais, numa cáustica escuridão, que ofende.
Inerme e sensível, toda e qualquer realidade,
se me mostra atroz, e estrangeiro
me sinto, neste corpo, que já não é meu,
perdido que está, a um canto poeirento.
E neste desencanto, onde tudo me parece
feio e insalubre, há resquícios de
tempos passados, onde imperava meu
ser solitário, calcorreando estradas ilusórias.
E escarrando na parede, deste fundo de
estação, lembro-me de quem fui, certo dia:
alguém que se olvidou e se negou a si mesmo,
e que pelo amor, jazendo, foi deposto.
Jorge Humberto
20/08/11