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Arranha-céu

 
Arranha-céu

Estou no topo do arranha-céu
Assistindo os orvalhos da manhã
salpicarem as nuvens verdes.
(Se eu tivesse asas, eu saltaria...)

Meu (amado) anjo da guarda
me esqueceu aqui em cima
E agora o que me resta dessa vida?
Além da minha lacrimosa tristeza
Inundando a amarga paisagem.

Mas quem sabe a chuva verde
Guarde a esperança do sol dourado
Nas folhas úmidas da árvore azul...
(Preciso acreditar na aquarela).

Meu anjo da guarda me esqueceu
no topo desse arranha-céu.
E agora eu sinto medo dos anjos
E dos amores imortais.

Eu tenho um coração quebrado
Como as estrelas-cadentes
que eu parti com estilingue.
Do que me adianta os sonhos?
Se apesar da “chuvaria” verde
A noite ainda é gelada.

Eu tenho um coração quebrado
E um barco de papel cinzento,
Se a chuva alcançar o arranha-céu
Eu vou embora nesse mar...

Eu não tenho medo da água-viva
Que vibra no azul marinho dos olhos,
São as nuvens que me assustam
Com seus desenhos de borboletas.
Mas aprendi a não temer as rosas
Pois elas se mostram com são.

... o que não está à vista dos olhos
É a maldade dos anjos azuis,
É o espinho dos girassóis.

Meu anjo da guarda me largou aqui
E eu tomei trauma das cores.

Não acredito mais na aquarela
E as folhas úmidas da árvore anil
Não serve de abrigo para os peixes.
A realidade não cede à fantasia.

... por isso matei minhas fadas essa manhã...
Depois de dormir aqui em cima,
Eu vi que tudo sempre foi cinzento
Como o meu barquinho de papel.

E agora percebo que esse asfalto
Tem a mesma cor do mar
Talvez se eu mergulhar nesse cinza
Eu encontre o sonhado alivio
Entre as pedras-conchas.

Meu anjo da guarda me abandonou
no topo desse arranha-céu.
E agora eu tenho medo de borboletas
...

 
Autor
Scarlett O'Hara
 
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Enviado por Tópico
Transversal
Publicado: 20/08/2011 02:47  Atualizado: 20/08/2011 02:47
Membro de honra
Usuário desde: 02/01/2011
Localidade: Lisboa (a bombordo do Rio Tejo)
Mensagens: 3755
 Re: Arranha-céu
"Agora tenho medo de borboletas
Meu anjo da guarda
me esqueceu aqui em cima
(Preciso acreditar na aquarela)
(e nos amores imortais)
tenho um coração quebrado
no topo desse arranha-céu
são as nuvens que me assustam
as rosas não
A realidade não cede à fantasia, por isso
talvez eu encontre
as pedras-conchas
Meu anjo da guarda me abandonou"

E entre "as folhas úmidas" a "maldade dos anjos azuis" e "um barco de papel cinzento", foi escrito um excelente texto.

Abraço te


Enviado por Tópico
ferlumbras
Publicado: 01/09/2011 00:15  Atualizado: 01/09/2011 00:15
Participativo
Usuário desde: 26/04/2010
Localidade:
Mensagens: 44
 Re: Arranha-céu
Nunca saberei se existe algo mais real que a Poesia ,se é realmente possível ser alguém se não com ela – com ela nas veias e nunca na folha.
Desisti de voar, voltei a voar, nasci e morri várias vezes, e a conclusão que sempre chego é que nunca cheguei a lugar algum, pois já estou nele. Eu que invento meus Deuses, poemas, sofrimentos e anjos.
Se viver é realmente se abandonar, se picotar os sonhos e por fogo em poemas é a única salvação, nada muda, só há silêncio, então se ainda pudermos bradar, brademos juntos até nossas cordas vocais nos servirem como cordas para suicídio: desistir é impossível, morrer também, só a Poesia te permite atravessar a rua e olhar para Eurídice que se traveste em Orfeu.
Parabéns pelo poema, gosto de responder poesias com impressões, desculpe qualquer coisa, desculpe por me prolongar.
Beijos!


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 01/09/2011 00:53  Atualizado: 01/09/2011 00:53
 Re: Arranha-céu
Interessante. Temo ler mais do que há.