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Se te Largo

 
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Se te largo um pouco da mão, é só, porque sei que corres tanto quanto eu, que te rebelas e perdes e outra vez te fazes capaz da manhã e da insónia, da voz e do silêncio, tanto quanto eu. E deixo-te ao longe, para que não me vejas desabar ao fundo. Guarda as tuas forças para ti, que eu mordo e esperneio contra a vida, praguejo as minhas fúrias entre compassos mudos, e sigo sózinha, cravando um soco apertado à boca das palavras que me ferem. Quero-te a três palmos de distância, a meia centena de quilómetros do épicentro onde o vácuo se faz e as têmporas latejam, o ar rareia e os ouvidos começam a doer. Quero-te a milha e meia de segurança, para lá do ângulo recto, que vai do cata-vento ao bico incendiado do raio. Depois eu volto. Depois eu venho. No tempo do resgate. Escavadas as escoras, que hão-de contrariar a disfunção entre a altura, em vertigem do eixo e a gravidade ópaca do chão. Depois de abertas as brechas e dilatadas as folgas que hão-de evitar que o peso nos desequilibre contra a pressão dos corpos. Eu volto, sim: venho a ti. Se então quiseres, quando chegar o tempo do resgate, virei por ti, por mim e para ti.


Luz&Sombra

 
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Luz&Sombra
 
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