Lugares muito cheios de gente me dão ataques de solidão. Eu só precisava encontrar um olhar pra fixar o meu, mas ele percebeu e sorriu pra mim. “Música alta né?” Perguntou se aproximando. “O quê?” Descobri que é mais fácil vencer o barulho sussurrando bem próximo do ouvido do que gritando. Tão próximo que dá até pra sentir um sopro quente afastando os cabelos do pescoço. Estremeci. Aquele frio na barriga. É isso que chamam de borboletas no estômago? Uma cruzada de pernas, outra de olhares. “Quer dançar mais essa?” E de repente a música agitada fica lenta. Hálito de trident, toques casuais. Lá fora, um canto escuro. A música já não estava tão alta, mas a respiração era ofegante, as palavras saiam atropeladas entre um estalo e outro. “Acho que te amo”, falei sem pensar. “Como?” “Eu disse que está frio aqui”. Levei pra casa um casaco perfumado e uma rosa roubada de um jardim. O suspiro reprimido finalmente se libertou, as lembranças esparramadas no sofá. Tudo aconteceu tão rápido... será que ele já me esqueceu? Por não saber o nome dele, resolvi chamá-lo de meu.