Ando entre avenidas e edifícios
Vago entre carros envelhecidos
Sendo reconhecido em cada esquina
Por todos pelintras e vadias desta Ilha...
Hoje não estou bom para prostitutas.
Ouço uma cacarejando meu nome na rua.
Mais adiante, fumando crack com cachimbo,
Mais um chegado de olhos arregalados: Gaguinho.
Convida-me para fumar com ele um baseado.
Rejeito. Hoje não. Estou um tanto chateado.
Vou andando com um vento me surrando a cara
E, por dentro, me roendo, punhais e navalhas
Que lentamente me dilaceram a entrada do esôfago
Comendo-me o fígado e todo meu intestino grosso...
Vou sangrando levando no rosto um sorriso mascarado
Um pôr-do-sol antigo no peito direito tatuado
Manchas marrons nas maçãs do rosto
Uma canção mui bela vai só, no meu coração...
Tenho arruda, gado bom e uma farta plantação
Um sítio sossegado onde erigi com ramos, altares.
Meus amigos não morrem. Nascem em meus pomares
Que cultivo com os orvalhos perolados das manhãs.
Brotam, todo ano, rosadas e adocicadas romãs
Onde cada semente vermelha é um amigo querido
Cada árvore uma estrela num céu novo florido
Cada folha a bondade mudada em criança
As raízes roxas, os dedos longos da Esperança
Que abrange a todos ao mesmo tempo e tudo
Aflorando em flores colores a Amizade e o Amor
Levando, cada pétala, o embrião a todo... Mundo!
Gyl Ferrys